RÁDIO FARROUPILHA
A Rádio Farroupilha foi a terceira emissora instalada em Porto Alegre. Fundada no ano de 1935, sua denominação foi uma homenagem ao centenário da
Revolução Farroupilha, comemorado no Rio Grande do Sul. Organizada pelo general
Flores da Cunha, então governador do estado, e seus filhos Luís e Antônio, além
de Arnaldo Ballvê, a nova estação tinha como objetivo dar sustentação política
ao governador. A direção foi confiada a Arnaldo Ballvê, que se destacou como um
dos mais competentes radialistas sulinos.
O
transmissor, de 25kw, refrigerado a água, único no Brasil na época, foi
importado da Argentina e montado por engenheiros norte-americanos e argentinos,
no morro da Bela Vista. Os estúdios foram instalados num casarão da rua Duque
de Caxias, no alto do viaduto Borges de Medeiros, ali permanecendo até 1954,
quando foi incendiado durante uma manifestação popular pela morte de Getúlio
Vargas. Ao prefixo PRH-2 era acrescentado o bordão “a mais poderosa do Rio
Grande do Sul”.
Nessa primeira fase, sobressaíram os nomes de Érico
Veríssimo, como contador de histórias infantis, o casal de atores Peri Borges e
Estelita Bel, e o escritor Josué Guimarães. Em 1936, um ano depois de fundada,
a Farroupilha iniciou o Teatro Farroupilha, alcançando um êxito completo.
As
transmissões iniciavam-se às 7:30h, com o Rádio jornal PRH-2, seguido de
um intervalo. Às 10:30h reiniciavam-se as transmissões, também chamada segunda
sessão, para fazer nova pausa às 14 horas. A terceira e última sessão tinha
início às 16 horas e encerrava-se às 23:15h, com uma crônica denominada Boa
noite. A alegação para esse intervalo era a necessidade de “esfriar as
válvulas”.
Em
16 de julho de 1942 estreou a primeira edição do Repórter Esso,
apresentado inicialmente por Rui Figueira e mais tarde por Lauro Hagemann. Na
década de 1940, a programação foi direcionada sobretudo às radionovelas,
variedades e programas de auditório. Um acontecimento raro, embora não inédito,
foi a transmissão de uma missa campal, oficiada pelo cardeal dom Sebastião
Lemes, diretamente do Rio de Janeiro, durante a Semana de Caxias. As
transmissões externas, provindas de outros estados, enfrentaram uma série de
dificuldades, a começar pela má qualidade sonora, uma vez que era utilizada a
linha telefônica, acarretando uma grande interferência e ruídos
característicos, mas, ainda assim, representaram uma valiosa conquista técnica
e prestígio junto ao público ouvinte.
Em
maio de 1943, Assis Chateaubriand, então aliado de Getúlio Vargas e Flores da
Cunha, adquiriu a emissora, incorporando-a aos Diários e Emissoras Associados e
passando a direção a João Freire, que criou novos programas. Somente nesse ano
haviam 12 novelas semanais. A primeira novela apresentada foi Em busca da
felicidade, de autoria de Leandro Blanco, que havia alcançado no Rio e São
Paulo grande sucesso. Outra com grande sintonia foi Rosa de sangue. Os
atores Válter Ferreira e Ernâni Behs eram os mais prestigiados.
Grande sucesso entre o público jovem foi o seriado O
vingador, adaptado de uma história popular do faroeste norte-americano.
Para reforçar o elenco artístico, Heron Domingues transferiu-se da Difusora,
onde apresentava a Crônica da cidade, para a Farroupilha.
À
noite, predominavam os programas de auditório, com a participação da orquestra
Panfar, composta de 35 músicos, dirigida pelo maestro Salvador Campanella, da
orquestra de jazz, ou do conjunto regional, todos contratados da emissora. Além
disso, intérpretes do Rio de Janeiro, São Paulo, Argentina ou mesmo de outros
países vinham para temporadas exclusivas, tornando a emissora a de maior
sintonia no Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina.
Apesar das dificuldades geradas pela Segunda Guerra, em 1944 a Farroupilha continuava com a programação normal, inclusive cobrindo os quatro dias de carnaval
em Porto Alegre. Num feito inédito, e que bem demonstra o seu prestígio na
época, as irradiações carnavalescas eram retransmitidas também para a cidade de
Ponta Porã, no Mato Grosso.
Ainda que as condições técnicas para uma transmissão externa
encontrassem muitas dificuldades, a Farroupilha inovou nessa área, promovendo
clubes, instituições e eventos, com narrações diretas do local. Ficaram famosas
a escolha anual da Miss Rio Grande do Sul, a Festa de Aniversário, a
Festa da Vitória e a Festa do Perfume, apresentadas do Clube do Comércio, num
acontecimento social prestigiado por empresários, políticos e artistas
porto-alegrenses.
Mas foi também uma fase áurea em criatividade a transmissão,
da ilha de Fernando de Noronha e do estado do Ceará, da movimentação dos
pracinhas brasileiros estacionados naqueles locais, durante a Segunda Guerra.
Ou irradiar de uma lancha para descrever uma corrida de regatas no rio Guaíba.
Ou ainda falar do leito do mesmo Guaíba, protegido por um escafandro. E também
irradiar a bordo de um avião monomotor a corrida de automóveis entre Porto
Alegre e Bajé.
No
início da década de 1950, foram introduzidos novos programas de variedades e de
auditório, assim como o radiojornalismo, tornando-a líder no Rio Grande do Sul.
Em 1952, Maurício Sirotsky Sobrinho, vindo da cidade de Passo Fundo, onde
mantinha um serviço de alto-falantes na praça principal, apresentou-se à
direção da Farroupilha para fazer um teste de locução. Contratado em caráter
experimental, ali permaneceu apenas alguns meses. No ano seguinte, foi
recontratado definitivamente, revelando-se depois um dos principais nomes da
radiofonia gaúcha e brasileira, ao fundar a Rede Brasil Sul de Comunicações em
1957. Outro nome de destaque foi o de J. Antônio de Ávila, um pernambucano que
adquirira grande experiência no rádio paulista. Adotando um estilo que obteve
sucesso nas emissoras Tupi do Rio e São Paulo, criou o programa Rádio
seqüência, apresentado a partir do meio-dia, que alcançou imediata
receptividade do público. Entre os muitos nomes que se sobressaíram no
programa, estavam o de Pinguinho e Válter Broda, em quadros humorísticos.
Foi o início também do programa Maurício Sobrinho,
apresentado aos domingos pela manhã no auditório do cinema Castelo, sempre com
muita animação.
O
ano de 1954 foi trágico para a Farroupilha. A morte do presidente Getúlio
Vargas, no palácio do Catete, no Rio de Janeiro, repercutiu imediatamente no
Sul. A emissora, como o jornal Diário de Notícias, pertencentes a Assis
Chateaubriand, que se tornara adversário político de Vargas, foi incendiada,
gerando o pânico entre os funcionários e ocasionando a queda intencional de um
operador de áudio, que atirou-se da janela do alto de prédio, sofrendo graves
traumatismos, mas não a morte.
Desprestigiada
pela opinião pública e anunciantes, a Rádio Farroupilha passou a enfrentar uma
grave crise financeira. Para minimizar a situação, o elenco artístico
apresentou-se em cinemas e teatros do interior do estado, onde, ao final de
cada espetáculo, a renda da bilheteria era dividida entre os participantes.
Numa dessas excursões, chegou a ser fretado um avião para levar todo o elenco
radioteatral a Pelotas.
No
ano seguinte, a direção passou a Dinarte Armando, depois a Otávio Augusto
Vampré e, por fim, a Nélson Dimas de Oliveira. A concorrência, agora, não era
apenas com as novas emissoras surgidas em Porto Alegre, mas com a Nacional do Rio de Janeiro, que, à noite, apresentava uma programação
variada, de auditório e dramaturgia. Ainda assim, a Farroupilha esforçou-se
para reconquistar o público. A instalação de nova e moderna aparelhagem, a
ampliação do radiojornalismo, as coberturas externas e a maior interação com o
ouvinte, por meio de programas populares, foram algumas das fórmulas empregadas
para o sucesso. E, particularmente, os programas regionalistas. Entre os
principais nomes estava o de Dimas Costa, que, juntamente com Paixão Cortes e
Darci Fagundes, comandava aos domingos à noite um programa de grande sintonia,
denominado Grande rodeio curinga, destacando os aspetos culturais do Rio
Grande do Sul.
Ainda em 1955, numa atitude típica, Assis Chateaubriand,
vindo diretamente do aeroporto de Porto Alegre, entrou no estúdio da
Farroupilha, interrompendo a programação, para anunciar aos gaúchos a breve
instalação da televisão no Rio Grande do Sul.
O ano de 1956 foi marcado pelo acompanhamento
radiojornalístico da guerrilha em Sierra Maestra e da invasão a Havana, por Fidel Castro. Além disso, foram criados novos programas, como Festa no galpão;
Clube do guri; No mundo dos sons; Música, música, música, com a
orquestra de 60 músicos da emissora; Coral de estrelas; Postais do mundo;
Todos cantam sua terra; Histórias do tostão; Rua da praia; Três mosqueteiros;
Páginas da vida, entre outros. Também Maurício Sobrinho voltava com seu
programa de auditório, usando a fórmula consagrada em outras emissoras do país,
com a apresentação dos últimos sucessos da música popular, quadros de humor e
um balaio de prêmios.
Com o surgimento da Rádio Guaíba em 1957, predominando a
música orquestral, qualidade de som e locução empostada, marcando um novo
estilo radiofônico no Rio Grande do Sul, a Farroupilha teve seu prestígio novamente
ameaçado. Em 1958, Maurício Sirotsky Sobrinho a adquiriu, integrando-a à RBS,
depois de efetuar uma ampla reforma administrativa e na programação.
No ano seguinte, a Farroupilha deslocou-se ao Egito para
acompanhar o Batalhão Suez, composto por soldados gaúchos a serviço da ONU, na
faixa de Gaza, como força de paz, durante o conflito entre Egito e Israel. As
transmissões ao vivo, feitas pelo repórter Glênio Peres, com excelente
qualidade técnica, e a troca de mensagens entre os pracinhas e seus familiares
no Brasil restituíram o pleno prestígio da emissora.
A partir da década de 1970, a programação da Rádio Farroupilha alcançou um público ainda mais popular, ao adotar a fórmula usada nas emissoras
paulistas e cariocas, de se dedicar a grandes espaços interativos sob o comando
de comunicadores, com apelo a empresários, políticos e personalidades para a
doação de cadeiras de rodas e muletas a pessoas inválidas, entre outros
expedientes.
Atualmente,
o comunicador mais conhecido é Sérgio Zambiasi, que havia sido garçom numa
lanchonete do interior, acumulando, depois, a profissão de radialista com a de
deputado mais votado no estado. Como comunicador, seu índice de popularidade
chegou a 20 pontos acima do segundo colocado. Conforme pesquisa da revista Amanhã,
de Porto Alegre, edição de 1997, a Rádio Farroupilha era a segunda emissora de
amplitude modulada mais ouvida no Rio Grande do Sul, logo após a Gaúcha, também
do grupo da RBS Comunicações.
Sérgio
Dillenburg
FONTES: Audiência
— revista da Abert; DILLENBURG, S. R. Os anos; Memória RBS;
Revista Amanhã (1997); Revista especializada Antena; Revis-ta
Imprensa (1987-52, 115); VAMPRÉ, O. A. Raízes.