RÁDIO
GAÚCHA
Primeira
emissora comercial de Porto Alegre e segunda do Rio Grande do Sul, a Rádio
Sociedade Gaúcha foi constituída no dia 8 de fevereiro de 1927. O
empreendimento foi do empresário Carlos Ribeiro de Freitas ao reunir em sua residência um grupo de interessados, formado por Alcides Cunha, Leovegildo
Veloso, Gabriel Fagundes Portela, Olavo Ferrão, Manuel Luís Borges da Fonseca,
José Batista Pereira, Álvaro Soares e Ivo Barbedo. A intenção era a implantação
de uma estação e escolas radiofônicas.
Os
estatutos foram aprovados em assembléia a 27 de agosto, quando também foram
convidados para integrar o conselho diretor, Fernando Martins, Alberto Sousa Gomes, Pedro César de Oliveira e Elói Morais. A comissão técnica
foi formada por Edson Ganzo e Artur Hentz. Em setembro, a emissora entrou em
fase experimental, no sexto andar do Grande Hotel, na praça da Alfândega, então
o principal da cidade. No dia 19 do mesmo mês foi oficialmente inaugurada, com
o prefixo PRA-Q, acrescentado pelo bordão “A voz dos pampas”. A solenidade foi
presidida por Otávio Rocha, intendente da capital, entre outras autoridades. A
orquestra de câmara de Sotero Cosme, da qual era integrante Radamés Gnatalli,
como segundo violino, completou o ato festivo.
A direção artística foi confiada a
Paulo Franco dos Reis e a administração a Luís Corcione. A equipe de locutores
era formada por Nero Leal, Antônio Spetzold, Alfredo Pirajá Weiss, Amaro Júnior
e Renaux Jung. Já faziam parte do quadro musical da emissora, entre outros,
alguns nomes que se destacariam nos anos seguintes no rádio e da música
porto-alegrenses, como os cantores Nilo Ruschel (também locutor e futuro
diretor da emissora), Ivan Castro, Carlos Nobre, Chico Lopes, Léo Romano,
Cândida Linharese Alcides Gonçalves (futuro parceiro de Lupicínio Rodrigues em
músicas como Cadeira Vazia, Maria
Rosa e Quem
Há de Dizer),
e de instrumentistas como o saxofonista e clarinetista Paulino Mathias e os
pianistas Britinho (Rubens Brito) e Paulo Coelho.
A potência do transmissor era de apenas 50 watts, enquanto o
restante da aparelhagem se constituía de uma vitrola a manivela e microfone,
além de alguns discos importados de 78 rpm. Inicialmente, a única fonte de
recursos se resumiu à contribuição mensal de alguns poucos ouvintes.
Em outubro, a emissora mudou-se para
um espaço maior, no primeiro andar da Farmácia Carvalho, no prédio vizinho,
quando foram adquiridos novos equipamentos técnicos e aberto o espaço
publicitário e a adoção de patrocínio a programas musicais e noticiosos. Ainda
assim, a emissora iniciava as transmissões somente às 11 horas da manhã. Um
novo transmissor de 250 watts foi adquirido e um toca-discos que podia ser
acoplado diretamente ao transmissor, o que resultou na primeira mesa de som do
rádio gaúcho.
Em 1928, mudou-se novamente, dessa vez
para um chalé de madeira no bairro Moinhos de Vento, ali sendo instalado um
transmissor de 1kw, passando o prefixo para PRC-2. Uma torre de madeira, que
depois se constituiu numa atração turística, completava o cenário. Em 1930,
Alfredo Pirajá Weiss lançou o primeiro programa regionalista, ao vivo,
denominado Contos gauchescos.
Nesse mesmo ano, durante os graves movimentos políticos no
Rio Grande do Sul, o noticiário da Gaúcha passou a ser controlado pelo exército
revolucionário, que apenas permitiu a divulgação de comunicados oficiais,
depois de assinados pelo general Góis Monteiro, chefe das tropas em operação. Ao completar quatro anos em 1931, a emissora realizou a primeira transmissão
externa, irradiando diretamente do antigo Estádio da Baixada, em Porto Alegre, atual Parque Henrique Luís Roessler, conhecido como Parcão, o jogo Grêmio 3 x Seleção do Paraná
1. Em fevereiro do ano seguinte, foi a vez de uma transmissão externa fora de
Porto Alegre, ao narrar a Festa da Uva, diretamente de Caxias do Sul.
Ainda
em 1932, quando a Revolução Paulista mobilizou o país, com reflexo direto no
Rio Grande do Sul, a rádio tornou-se o grande veículo de informação, embora sob
censura.
O
levante comunista de 1935 e a manifestação integralista de 1937, assim como a
implantação do Estado Novo e a deflagração da Segunda Guerra Mundial, foram
outros fatores que aumentaram significativamente a sintonia da emissora. Em
1935, Brenno Caldas assumiu o controle acionário da rádio e convidou o locutor
Oduvaldo Cozzi, do Rio de Janeiro, para ampliar o departamento esportivo. Em
1940, os estúdios foram transferidos para a rua Sete de Setembro, enquanto as
novas torres de ferro eram instaladas no bairro Cristal. Em 1943, Arnaldo
Ballvê assumiu a direção geral enquanto muitos nomes, como Heron Domingues,
Ivan Castro, Adão Carrazzoni, Cândido Norberto, Jaime Copstein, Sérgio
Jockymann, Rui Figueira, Luís Gualdi, Pepe Hornes e Fábio Silveira, entre
outros, começaram a se destacar.
Programas
como A pensão da Fefeca, Artes
e travessuras e
Os serões de dona Generosa
alcançaram grande popularidade na época. Com as dificuldades de reposição de
peças impostas pela guerra, o tempo de irradiação foi reduzido para o período
das 11 às 22 horas. O bordão passou a ser “sua amiga por tradição”.
Em 1949, Cândido
Norberto participou da primeira jornada esportiva internacional, no Estádio
Centenário de Montevidéu, ao narrar o jogo Grêmio 3 x Nacional 2.
As transmissões em ondas curtas tiveram início em 1951,
quando foi inaugurado o novo estúdio e auditório no edifício União, no centro
da cidade. Essa fase foi marcada pela apresentação de radionovelas e programas
de auditório. Ernâni Behs, Válter Ferreira, Cândido Norberto e Zaíra Acauan
eram as vozes principais. Na área esportiva, as transmissões dos jogos entre as
seleções da Rússia e da Hungria, em Moscou, transmitidas ao vivo, aumentaram o
prestígio da emissora. O controle acionário passa ao publicitário Sílvio
Motolla.
Em 1957, Maurício Sirotsky Sobrinho e
Arnaldo Ballvê, que possuía a Rede de Emissoras Reunidas no interior,
juntamente com seu filho Frederico, assumem a direção da Rádio Sociedade Gaúcha
criando o grupo RBS, empresa de comunicação multimídia que passou a operar no
Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No mesmo ano, associam-se ao grupo Eduardo
Esquemazzi, Manuel Arrochelas Galvão e Nestor Rizzo, assim surgindo a Rádio
Gaúcha. Em 1973, a potência foi elevada para 100kw, dez vezes mais que a
anterior, abrangendo todo o território nacional. Após o golpe militar de 1964, a RBS de Maurício Sirotsky Sobrinho se associou às organizações de Roberto Marinho, o que
representou um grande salto para a Rádio Gaúcha, que assim teve condições de
adquirir um transmissor de 100kw, inaugurado em 1973. Em 1976 foi inaugurada a
Rádio Gaúcha ZH FM, que marcou início da formação das rádios FM da RBS.
Em
1986, passou a irradiar através da maior antena de rádio do Brasil, com 230 metros de altura. Instalações de transmissão de alta tecnologia acompanham essa fase. Em 1994,
durante a cobertura da Copa do Mundo nos Estados Unidos, inaugurou as
transmissões via satélite, formando uma rede de 358 emissoras em todo o Brasil.
A 20 de março de 1995 formou a Rede Gaúcha SAT. Em 2009, a rede via satélite da Gaúcha era integrada por 51 emissoras afiliadas, 37 delas no Rio Grande
do Sul, cinco em Santa Catarina, quatro no Paraná, duas em Mato Grosso e duas em Mato Grosso do Sul. Havia ainda uma empresa de clipping
(coleta de notícias) em Brasília. Em 1997, foi implantado o sistema de áudio
digital.
Durante
a década de 1990 a sua programação era basicamente informativa. O programa Gaúcha
repórter,
apresentado desde 1983, marcou o início desse estilo. Essa mudança valeu-lhe
vários reconhecimentos, como o Prêmio Top Nacional de Marketing
e a medalha de bronze na
edição de 1995 do The New York Radio Festivals (Festival Internacional do
Rádio). A emissora já havia sido vencedora em quatro edições do mesmo festival,
ganhando medalha de bronze pela cobertura do impeachment
do presidente Fernando Collor e certificados de finalista nas coberturas do
assassinato do deputado José Antônio Daudt, da Guerra do Golfo e das eleições
presidenciais em 1989. Pelo programa Memórias
de um menino de rua,
foi premiada em 1995 com a medalha de prata na categoria “Melhor história de
interesse humano”.
A rádio era a cabeça da Rede Gaúcha
SAT, com 127 afiliadas em 10 Estados brasileiros. A emissora, segundo dados do
IBOPE – Instituto Brasileiro de Pesquisa de Opinião e Estatística, possuía
2005 cerca de 60% da audiência no setor de radiojornalismo e disponibilizava a
sua programação também na internet (www.radiogaucha.com.br).
Sérgio
Dillenburg/ colaboração especial Lilian
Lustosa (atualização)
FONTES:
BORGES, L.F.R. Apontamentos; Diário
de Notícias (1942 a 1960); DILLENBURG, S. R. Os anos; Federação
(1927 a 1938); INF. Cândido Norberto e Ernâni Behs; Jornal
do Comércio
(8/5/86); Memória RBS;
Museu de Comunicação Social; Seminário Internacional de Radiojornalismo; Portal clicRBS. Rádio Gaúcha 600 AM + FM 93,7. Disponível em
: <http://www.clicrbs.com.br>. Acesso em : 16 out. 2009; Portal do Grupo RBS.
Disponível em : <http://www.rbs.com.br>. Acesso em : 16 out. 2009; Revista
Imprensa;
VAMPRÉ, O. A. Raízes; Zero
Hora
(4/6/86 e 24/3/89).