RÁDIO
GLOBO
Emissora
de rádio fundada pelo jornalista e empresário Roberto Marinho no Rio de Janeiro
em 2 de dezembro de 1944. Parte do grupo de empresas integrado originalmente
pelo jornal O
Globo e liderado pela Rede
Globo de Televisão, a Rádio Globo tornou-se a principal emissora do Sistema
Globo de Rádio.
Fase
inicial
Em 1944 Roberto Marinho adquiriu o controle acionário da
Rádio Transmissora Brasileira, de propriedade da RCA Victor, para iniciar suas
atividades no meio. Inaugurada durante os últimos meses da Segunda Guerra
Mundial, a Rádio Globo destinou-se, desde o começo, a atingir um público de
massas, de acordo com as novas possibilidades abertas pelo processo de
desenvolvimento econômico, urbano e industrial acelerado nos anos de guerra e
que em breve seriam favorecidas, também, pela democratização do país, após o
período autoritário do Estado Novo.
A Rádio Globo contava em seu cast inicial com nomes como os de Valdir Amaral, Raul Brunini e
Luís Mendes. Entre os programas de destaque nos seus primeiros anos estava
justamente o Correspondente de guerra, com a cobertura do conflito. Já o jornalístico O globo no ar apresentava, entre outras, a seção “Homens e opiniões”, em
que eram entrevistados representantes da Câmara e do Senado Federal.
Em abril de 1945, a Rádio Globo conseguiu, num “furo” de
reportagem, cobrir o recebimento por Luís Carlos Prestes da notícia de sua
anistia, acompanhando o líder comunista em sua saída da prisão. E em outubro o
radiojornal transmitiu ao vivo os acontecimentos relativos à movimentação
política e militar que resultou na deposição de Getúlio Vargas e no fim do
regime de 1937.
Em junho de 1946, como meio de divulgação da emissora, passou
a ser publicada no jornal O Globo, de duas a três vezes por semana, a coluna “O globo no
rádio”, redigida por Celestino Silveira.
Com
o desenvolvimento do sistema político democrático, o rádio tornou-se plataforma
para o início de novas carreiras políticas. Assim, em 1947, graças à
popularidade do veículo, artistas do cast
da Rádio Globo se elegeram vereadores, como o compositor e locutor Ari Barroso,
na legenda da União Democrática Nacional (UDN), e a apresentadora Sagramor de
Scuvero, na legenda do Partido Republicano (PR).
Já em 1948 a Rádio Globo transmitiu diretamente da Câmara dos
Deputados os debates a respeito da cassação dos mandatos dos representantes
eleitos pelo Partido Comunista, colocado na ilegalidade um anos antes.
Em
14 de julho de 1949 passou a ser transmitido pela Rádio Globo o programa Tribuna
política,
pelo qual seriam gravados e transmitidos aos ouvintes depoimentos das
principais lideranças parlamentares da capital federal. Após as transmissões os
arquivos sonoros do programa seriam arquivados nos serviços de documentação das
duas casas do Congresso. No programa de estréia estiveram nos estúdios da Rádio
Globo os
parlamentares Prado Kelly, Nereu Ramos, Campos Vergal, Raul Pilla, Salgado
Filho, Benjamim Farah, Evandro Viana e Lopes da Cruz. Em sua intervenção o
então presidente da UDN, Prado Kelly, enfatizou a importância do que chamou de
“educação política”, fim maior a que se destinava o programa.
No
início da década de 1950 a Rádio Globo ocupava
o quarto lugar na disputa pela audiência no Rio de Janeiro. Um dos destaques de
sua programação era o
Conversa em família,
programa de crônica teatralizada em que eram debatidos — à maneira de uma
conversa familiar, à mesa de jantar — os principais assuntos do momento, em
especial os políticos. O programa recebia, inclusive, a visita de
parlamentares.
Com a eleição de Getúlio Vargas para a presidência da
República em 1950, iniciou-se um processo de crescente radicalização do quadro
político brasileiro, em função dos ressentimentos criados ao longo do Estado
Novo, associados à pessoa do ex-ditador, e ao temor de que Vargas se utilizasse
de sua popularidade, recém-comprovada pelas eleições, para tentar reinstalar-se
no poder com poderes ditatoriais como fizera em 1937. A Rádio Globo tornou-se rapidamente um dos principais veículos de contestação ao novo governo
no conjunto dos meios de comunicação da época, com a abertura de seus
microfones para os principais adversários de Vargas na UDN, em especial o
jornalista Carlos Lacerda. Em julho de 1953 Lacerda utilizou-se das facilidades
que lhe foram oferecidas pela rádio para atacar o jornalista Samuel Wainer,
diretor e proprietário do jornal Última Hora, pró-Getúlio, alvo de uma comissão parlamentar de inquérito
(CPI) instalada em abril de 1953 com o objetivo de provar o favorecimento
ilícito prestado pelo governo para a criação, em 1951, daquele vespertino que o
apoiava.
Lacerda voltou a atacar Getúlio através da Rádio Globo em 5
de abril de 1954, referindo-se ao suposto “Pacto ABC” que o então presidente
teria feito com o presidente argentino Juan Domingo Perón, no sentido de
alinhar o Brasil à Argentina e ao Chile na formação de um bloco anti-EUA. Em
seu programa transmitido pela emissora, o radialista Raul Brunini também abria
espaço para os ataques da bancada udenista contra Vargas.
No dia 5 de agosto de 1954, em resposta aos constantes ataques
que Lacerda fazia ao presidente — através de seu jornal, a Tribuna da Imprensa, da TV Tupi, de Assis Chateaubriand, e da Rádio Globo —,
pistoleiros a mando de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio,
tentaram calar o jornalista. No atentado foi morto o major da Aeronáutica
Rubens Vaz, que dava proteção a Lacerda, que também saiu ferido. A partir daí a
crise política, iniciada com a posse de Vargas e paulatinamente agravada ao
longo de seu segundo governo, chegou ao seu ponto máximo. Diante do ultimato
das forças armadas, que exigiam a sua renúncia, Getúlio suicidou-se na
madrugada de 24 de agosto.
Já na noite do dia 23 começaram a circular notícias sobre a
iminente renúncia do presidente. Em edições extraordinárias, os repórteres da
Rádio Globo transmitiam os últimos acontecimentos diretamente do palácio do
Catete e da residência do vice-presidente Café Filho. De lá, inclusive, não
apenas entrevistaram o ex-presidente marechal Eurico Dutra — que elogiara a
forma como os militares tinham se mantido, ao longo da crise, dentro dos
limites constitucionais — mas também transmitiram um pronunciamento de Lacerda.
Nele, o líder oposicionista ressaltou o “extraordinário papel que a Rádio
Globo, a serviço da imprensa falada, da verdade e da justiça, desempenhou nesta
revolução branca que hoje tem a sua noite de glória”.
À
notícia do suicídio seguiu-se grande comoção popular e a explosão de atos de
revolta contra os atores e órgãos de comunicação identificados como inimigos do
presidente morto. Em comício improvisado na Cinelândia, centro do Rio de
Janeiro, um orador acusou a Rádio Globo de
continuar transmitindo música popular, desrespeitando o luto pelo presidente
morto — enquanto outras emissoras somente transmitiriam música clássica. Um
grupo de manifestantes partiu dali em direção à sede da emissora, na avenida
Rio Branco, para tomá-la de assalto. Foram impedidos, porém, pela presença da
Polícia Especial. Em função desses incidentes a avenida foi interditada pelo
Exército, que assim protegeu a Rádio Globo. Em 29 de agosto Lacerda ainda
voltou aos microfones da Rádio Globo para interpretar os sentidos da
carta-testamento deixada por Getúlio.
Líder
de audiência
Ao
longo da década de 1950, procurando encontrar seu espaço num mercado dominado
de forma incontestável pela Rádio Nacional, a Rádio Globo acabou
por desenvolver um formato de programação centrado na figura do comunicador:
não apenas um simples locutor de textos previamente escritos, mas uma espécie
de mestre-de-cerimônias e prestador de serviços com liberdade e capacidade de
improvisação, além de forte empatia com os ouvintes. Entre os precursores e
criadores desse tipo de transmissão na Rádio Globo, destacaram-se
nomes como os de Luís de Carvalho, Jonas Garret, Mário Luís e Haroldo de
Andrade. Em busca da fórmula, a direção da emissora procurou também adaptar às
condições brasileiras a experiência de sucesso obtida pelos apresentadores da
emissora WABC de Nova Iorque.
Foi
com esse tipo de profissional, com uma preocupação constante com a padronização
estética e de procedimentos, com a profissionalização dos processos produtivos
radiofônicos — através, inclusive, da organização de grupos de criação — e com
uma programação centrada no tripé “música, esporte e notícia”, que a Rádio
Globo assumiu
a liderança da audiência do rádio carioca por volta de 1964. Partindo do quinto
lugar em 1959, a emissora contou para essa ascensão com o declínio do modelo de
programação centrado em música ao vivo e novelas que fora a base do sucesso da
Rádio Nacional, e que entrou em crise na passagem dos anos 1950 para os anos
1960 por força do crescimento e da concorrência da televisão.
A
ascensão da Rádio Globo também foi favorecida pelos problemas políticos
enfrentados por outra de suas concorrentes diretas, a Rádio Mayrink Veiga, a
partir da deposição do presidente João Goulart, pelo movimento militar de 31 de
março de 1964. A Mayrink Veiga comprometera-se com o grupo político do
presidente deposto, já que, durante os anos de 1962 e 1963, o seu microfone era
ocupado quase que diariamente pelo deputado federal Leonel Brizola para
pressionar o governo e o Congresso no sentido da implementação de reformas
sociais, conhecidas na época como “reformas de base”. Com a queda e o exílio de
Goulart e Brizola, as transmissões políticas da Mayrink foram suspensas, e um
ano depois a emissora foi fechada pelo presidente Castelo Branco, através de um
mandado de segurança.
Também
na década de 1960 o Sistema Globo de Rádio começou a tomar forma com a
incorporação de outras emissoras, as quais possuíam suas características
próprias de programação mas beneficiavam-se dos modelos de gestão desenvolvidos
para a rádio pioneira. Foi o caso, no Rio de Janeiro, das rádios Eldorado e
Mundial, extintas em 1991 e 1993, respectivamente, passando os seus sinais para
a Rádio CBN, especializada em jornalismo. Em São Paulo o sistema começou a se estabelecer com a aquisição, em 1965, das rádios Nacional — que em 1974 passou
a ser a Globo AM de São Paulo — e a Excelsior — que em 1991 tornou-se a CBN
local —, ambas compradas à Organização Vítor Costa.
Em 1965 estreou o Programa Haroldo de Andrade, desde então o campeão de audiência no horário das nove às
12 horas, de segunda a sexta-feira. Com debates e prestação de serviços, o
programa tornou-se um dos mais cobiçados espaços da mídia carioca para a
veiculação de opiniões e para a popularização de produtos e imagens públicas.
Seu titular passou a ser freqüentemente lembrado como alternativa de
candidatura para cargos eletivos na cidade e no estado. Em 1977 foi premiado
como “Melhor Programa da América Latina” pelo X Fórum Internacional de
Programação de Rádio. No mesmo ano, Haroldo de Andrade foi apontado como a
“Maior Personalidade do Ar” pela revista norte-americana Billboard, especializada em música e show-business.
Durante
as eleições municipais de 1992 o jornal Folha
de S. Paulo
publicou, no dia 16 de setembro, matéria em que denunciava a Rádio Globo por
venda ilegal de espaço para propaganda política de candidatos a vereador em
municípios do interior do estado do Rio de Janeiro. De acordo com o jornal, um
de seus repórteres, apresentando-se como assessor de um candidato, obteve do
então gerente comercial da emissora, Albano Alves Filho, a informação de que a
propaganda poderia ser veiculada, apenas para candidatos de fora do município
do Rio de Janeiro, sob a forma de uma entrevista de 30 segundos com o
interessado, pelo custo aproximado, à época, de 1,2 milhão de cruzeiros.
Procurado no dia seguinte por repórter do jornal — que dessa vez se identificou
como tal — o gerente da Rádio Globo negou
a existência desse tipo de serviço.
Em
fins de 1999, de acordo com o IBOPE, a audiência média da Rádio Globo era da
ordem de 177 mil ouvintes por minuto. Nesse mesmo ano faziam parte do Sistema
Globo de Rádio as seguintes emissoras: 1) Rio de Janeiro: Globo AM, CBN AM,
1180 AM, 98 FM e Globo FM; 2) São Paulo: Globo AM, CBN AM, Globo FM e CBN FM;
3) Belo Horizonte: BH FM, CBN AM e CBN FM; 4) Brasília: CBN AM e CBN FM.
Em 2001, a rádio Globo iniciou a formação da rede Rádio Globo Brasil, com a transmissão conjunta do Rio
e de São Paulo, de diferentes programas da emissora. Em 2002, foi relançada a
Rádio Globo Minas que já havia ido ao ar nos anos 80.
Em 2009, a Rádio Globo Brasil passou a se chamar RádioGlobo,
apenas uma palavra. Ocorreram mudanças em sua identidade visual e ela adotou o
slogan “Bota
Amizade Nisso!”, buscando uma relação direta e simples com o ouvinte. Mudaram também, a
programação, as vinhetas, a página na internet, as pinturas do Amarelinho e do
GloboMóvel, as canoplas dos microfones dos repórteres, além de todo o material
promocional.
Em 2009 a RádioGlobo contava com três emissoras próprias, no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte, e 29 afiliadas, espalhadas pelas cinco regiões do país.
Fernando
Lattman-Weltman
FONTES:
CARVALHO, A. C.
Comunicação;
ENTREV. Barbato, M. L; ENTREV. Brunini, R.; FERREIRA, J. Carnaval; Folha
de S. Paulo
(16/9/92); PN.
Anuário Brasileiro de Rádio (1950);
Portal Rádio Globo. Disponível em : <http://globoradio.globo.com/
MusicCenter/0,,4864,00.html>.
Acesso em : 21 nov. 2009; Site
do Sistema Globo de Rá- dio. Disponível em : <http://189.126.116.36/sgrb2b/site/con-cham.aspx?SmId=23>.
Acesso em : 25 nov. 2009;VAMPRÉ, O. L. Raízes.