RÁDIO
NACIONAL
Emissora
de rádio inaugurada no Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1936, com o prefixo
PRE-8, sob a razão social da Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional,
controlada pela Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, uma das
empresas brasileiras do empresário norte-americano Percival Farquhar.
Antecedentes
Em 1931, as máquinas, instalações e imóveis do jornal A Noite foram entregues à Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio
Grande, como pagamento de dívidas. Integravam o mesmo grupo a S.A. Rio Editora e as revistas A Noite Ilustrada, Carioca e Vamos Ler.
A
nova direção decidiu investir no setor de radiodifusão e para isso constituiu a
Sociedade Civil Brasileira Rádio Nacional, a 18 de maio de 1933. Em assembléia
reunida a 24 de maio de 1936 foram alterados os estatutos da sociedade,
elevando o capital da empresa de cem contos de réis para setecentos contos de
réis em ações. A Sociedade Rádio Nacional tinha como presidente Caubi C. de
Araújo e contava com os seguintes sócios: Pedro Lopes, Otávio Lima, Ismael de
Oliveira Maia, Pedro Pernambuco, Alfredo Lima, Américo Ramos e Vasco Lima.
Com a obtenção de um transmissor de 20kw, que pertencera à
extinta Rádio Phillips, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro instalou-se no 22º
andar do prédio do jornal A Noite, que se situava na praça Mauá nº 7, um edifício de 22
andares inaugurado em setembro de 1929 como o primeiro arranha-céu carioca, por
muito tempo considerado um cartão-postal da cidade.
A
Rádio Nacional do Rio de Janeiro iniciou suas transmissões no dia 12 de
setembro de 1936, após solenidade que contou com a presença, no auditório da
emissora, de personalidades diversas da sociedade carioca, embaixadores e
membros do governo. Já na inauguração, a emissora contava com grande elenco,
entre os quais artistas como os cantores Orlando Silva, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Sílvio Caldas e Araci de Almeida, os maestros Romeu Ghipsman e Radamés
Gnatalli, os locutores Celso Guimarães, Ismênia dos Santos, Oduvaldo Cozzi e
Aurélio de Andrade, o cronista Genolino Amado, o redator Rosário Fusco e o
compositor Lamartine Babo, entre outros.
Em
8 de março de 1940, a Rádio Nacional — assim como as demais empresas do grupoA
Noite, pertencentes à Companhia
Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande — passou para o âmbito do Estado. Getúlio
Vargas, então presidente da República, sob o Decreto-Lei nº 2.073, criou as
Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, absorvendo todo o conjunto de
empresas pertencentes ao patrimônio da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio
Grande.A encampação teve como principais alegações as dívidas contraídas pela
companhia junto ao Patrimônio Nacional (num total de três milhões) e ficou
decidida a manutenção do conjunto das empresas, que foram consideradas, segundo
o texto do decreto, relevantes para a utilidade pública e para o interesse do
país.
O coronel Luís Carlos da Costa Neto foi nomeado para o cargo de superintendente das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. Para a
direção da Rádio Nacional foi designado Gilberto de Andrade, jornalista,
ex-diretor das revistas A Voz do Rádio e Sintonia, ex-deputado estadual em Alagoas, ex-promotor público em
Pernambuco, promotor do Tribunal de Segurança e um dos organizadores da censura
teatral. Gilberto de Andrade manteve-se na direção da Nacional no período de 1940 a 1946.
Desde
o final dos anos 1930 a Rádio Nacional do Rio de Janeiro já começava a obter a
preferência popular, disputando com a emissora Mayrink Veiga, campeã de
audiência carioca. Ao assumir a direção da emissora, Gilberto de Andrade tratou
de implementar um conjunto de medidas que rapidamente repercutiram no aumento
dos índices de audiência. Para pôr em prática as inovações, Gilberto de Andrade
contava com um grupo de profissionais altamente qualificados. Pertenciam aos
quadros da Nacional profissionais como Henrique Foreis Domingues, o Almirante,
Paulo Tapajós e José Mauro, aos quais vieram se somar outros como Lírio
Panicali e Léo Peracchi.
Uma das primeiras medidas tomadas por Gilberto de Andrade foi
a de instalar um setor de estatística para medir a popularidade dos programas e
dos artistas da emissora. Os resultados obtidos pelo setor serviam de forte
argumento na conquista de novos anunciantes. A política financeira do novo
diretor era a de que o conjunto do faturamento deveria sustentar a emissora
como um todo. Tal política permitia a produção de alguns programas de alta
qualidade, que traziam fama e reconhecimento público para a emissora, ainda que
se mantivessem financeiramente deficitários, pois esses desequilíbrios seriam
compensados pelo restante da programação.
O ano de 1941 foi um ano de grandes realizações. Em 5 de
junho de 1941 foi ao ar a primeira radionovela brasileira: Em busca da felicidade, uma adaptação do original cubano de Leandro Blanco por
Gilberto Martins, com a interpretação de Zezé Fonseca, Iara Sales, Rodolfo
Mayer, Ísis de Oliveira, Floriano Faissal, Saint-Clair Lopes e Brandão Filho,
entre outros. Os capítulos eram apresentados três vezes por semana, às
segundas, quartas e sextas-feiras pela manhã, às 10:30h, sob o patrocínio do
creme dental Colgate. A novela ficou em cartaz até 1943 e foi substituída por O romance de Glória Marivel, um original também de Leandro Blanco.
Aproveitando o sucesso de Em busca da felicidade, a Nacional lançou, em seguida, as radionovelas noturnas Predestinada, Fatalidade e Maldição, todas de Oduvaldo Viana. As radionovelas obtiveram grande
aceitação popular e logo passaram a ocupar diversos horários da programação da
emissora. Durante todas as décadas de 1940 e 1950 e parte da de 1960 as
radionovelas foram as campeãs de audiência da Rádio Nacional. Durante o ano de 1943 a emissora transmitiu 19 radionovelas. Em dez anos este número aumentou para 75 e, em 1955, a Nacional atingiu a cifra de 157 radionovelas anuais.
Em 28 de agosto de 1941 surgiu o Repórter Esso, “o primeiro a dar as últimas”, inicialmente nas rádios
Nacional do Rio de Janeiro e Record de São Paulo e, posteriormente, nas rádios
Inconfidência de Belo Horizonte, Farroupilha de Porto Alegre e Rádio Clube de
Pernambuco. Inicialmente sem locutor fixo, o Repórter Esso da Nacional se consagrou na voz de Heron Domingues, que a
partir de 1944 se tornou o locutor exclusivo deste noticiário radiofônico.
Heron permaneceu no cargo de locutor durante 18 anos e, com o slogan de “testemunha ocular da história”, o Repórter Esso se manteve 27 anos no ar. O noticiário era preparado pela
United Press International (UPI) e seguia os moldes dos noticiários radiofônicos
norte-americanos. O Repórter Esso era um noticiário muito popular e bem conceituado junto aos
ouvintes, possuía três transmissões diárias regulares e edições
extraordinárias, caso fossem necessárias.
No ano de 1942 a emissora continuou a sofrer grandes
transformações. Em 19 de abril de 1942 a Nacional inaugurou os novos estúdios e um auditório de 486 lugares, realizando uma programação especial durante
todo o dia. A Nacional se colocava entre as emissoras mais bem equipadas do
mundo.
Ainda em 1942, ocorreram mais inovações técnicas na Rádio
Nacional. Em 15 de novembro os transmissores foram transferidos para o bairro
de Parada de Lucas, o que significou uma melhora imediata na qualidade das
transmissões. Em 31 de dezembro a emissora inaugurou um transmissor de ondas
curtas RCA Victor de 50kw e um sistema de cinco antenas direcionais, que
deveriam transmitir para a América, Ásia, África e Europa e para todo o
território brasileiro. Na cerimônia de inauguração se encontravam presentes nos
estúdios da Nacional diversas autoridades, entre eles os ministros Osvaldo Aranha,
Mendonça Lima e Barros Barreto, o interventor Amaral Peixoto e o capitão
Osvaldo Pamplona, representando o presidente da República.
O setor de emissões para o estrangeiro em ondas curtas
funcionava como uma emissora à parte, com alguns departamentos especiais. O
departamento cultural contava com a colaboração de Roquete-Pinto, Silvio Fróis
de Abreu, Venâncio Filho, Raul Machado, Andrade Murici, Gastão Cruls e Manuel
Bandeira. O responsável do departamento político foi, inicialmente, João Neves
da Fontoura, logo substituído por Cassiano Ricardo. Havia ainda o departamento
econômico-financeiro, a cargo de Valentim Bouças.
As transmissões internacionais tinham início à tarde. Em
janeiro de 1943, o programa para Portugal ia ao ar às 16:30h, seguido pelo da
Inglaterra, às 17:30h, o hispano-americano, às 18:40h, e no final do dia, o dos
Estados Unidos e Canadá, às 23 horas.
Com modernas instalações e alcance nacional, a emissora
passou a atrair novos patrocinadores. Em 6 de janeiro de 1943, a Coca-Cola e a Nacional colocavam no ar o programa Um milhão de melodias, como parte da campanha de lançamento do refrigerante no
mercado brasileiro. O programa permaneceu em cartaz por 13 anos. O repertório a
ser apresentado em Um milhão de melodias era escolhido por Paulo Tapajós e Haroldo Barbosa, com
direção de José Mauro. O maestro Radamés Gnattali era o responsável pelas
orquestrações especiais, tanto para as composições nacionais como para as
estrangeiras. Para a execução das músicas, Radamés criou uma orquestra especial
para o programa, que contava com os violões de Garoto, Bola Sete e Zé Meneses,
com a bateria de Luciano Perrone e com a percussão de João da Baiana e Heitor
dos Prazeres, entre outros músicos.
Um outro gênero de programa muito popular era o de auditório.
Os grandes programas de auditório da Nacional eram constituídos de diversos
quadros que constavam de shows musicais, teatros de variedades, concursos,
sorteios de prêmios e, muitas vezes, uma parte dedicada aos calouros.
Em 1943, a Nacional apresentava, aos domingos, o programa de
auditório de Luís Vassalo, que tinha início às dez horas e terminava às 15
horas. Dentro do programa havia um conjunto de quadros que variavam sua duração
entre 15 e 30 minutos. Às 16:30h tinha início a Hora do pato, um programa de calouros de uma hora de duração,
inicialmente apresentado por seu criador, Héber de Bôscoli, depois substituído
por outros apresentadores, como Paulo Gracindo e Jorge Curi. Um outro tipo de
programa de auditório era o de Jararaca e Ratinho, programa de humor irradiado
às sextas-feiras, às 21:35h.
A
popularidade dos programas de auditório fez com que alguns deles se mantivessem
no ar por muitos anos. Os programas de César de Alencar, Manuel Barcelos e
Paulo Gracindo tiveram início no final da década de 1940 e ficaram no ar por
mais de 20 anos. O aumento da popularidade dos programas de auditório fez com
que a Nacional passasse a vender os ingressos para tais programas. Em ocasiões
especiais, como por exemplo nos aniversários dos programas, a emissora alugava
um teatro para poder acomodar um maior número de fãs.
Em 1946, Gilberto de Andrade deixou a direção da Rádio
Nacional, sendo substituído, inicialmente, por Hermenegildo Portocarrero e, em
seguida, por Armando Calmon Costa, que se manteve na direção da emissora no
período de 1946 a 1950.
No
final da década de 1940, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro era a líder de
audiência tanto no Rio de Janeiro como em outras praças do país. Os programas
de auditório prosperavam e muitos deles mantinham sempre um de seus quadros
dedicados a uma cantora (ou cantor) popular que atraía para o programa uma
“legião de fãs”. A cantora Emilinha Borba era a estrela do programa César de
Alencar; e Marlene, do programa Manuel Barcelos. Em 1949, Marlene e Emilinha
disputaram o título de Rainha do Rádio, com os animadores dos programas
estimulando a disputa. Os votos eram vendidos e a renda era destinada à
campanha de construção do Hospital dos Radialistas. Marlene foi a eleita, mas a
disputa entre os fãs das artistas se prolongou por anos.
Ao longo do tempo, a Nacional foi criando a prática de manter
determinados tipos de programações sempre nos mesmos horários e quando um
programa tinha fim era substituído por outro do mesmo gênero. As tardes de
sábado e domingo eram dedicadas aos programas de variedades com participação do
auditório. O horário de 20:35h das sextas-feiras, desde o início da década de
1940, era dedicado aos programas humorísticos e obtinha altos índices de
audiência. O primeiro programa do gênero a ocupar o horário foi o da dupla
Jararaca e Ratinho, que foi substituída por Alvarenga e Ranchinho. Mais tarde,
passou a ocupar o horário humorístico da sexta-feira da Nacional, o programa PRK-30, a emissora “clandestina” da dupla de comediantes Lauro Borges
e Castro Barbosa.
Entre 1950 e 1951 a direção da Nacional do Rio de Janeiro
ficou a cargo de José Caó. Ainda em 1950, mantendo a tradição do horário
humorístico das sextas-feiras, o PRK-30 foi substituído por um programa de Max Nunes, o Balança mas não cai. O novo programa contava em seu elenco com os atores Brandão
Filho, Paulo Gracindo, Floriano Faissal, Apolo Correia, Válter e Ema d’Ávila,
entre outros.
Em 1951, Vítor Costa assumiu a direção da Nacional. Vítor
tinha sido até então o diretor de radioteatro. Para diretor de broacasting foi nomeado Paulo Tapajós. Neste período o setor que mais se
destacou foi o radioteatro.
Em 8 de janeiro de 1951 a Nacional do Rio de Janeiro lançou às segundas, quartas e sextas-feiras, no horário de 20 horas às 20:25h, O direito de nascer, a mais famosa novela radiofônica. O texto original, do
cubano Félix Caignet, foi irradiado, com enorme sucesso, em diversos países
latino-americanos. No Brasil a adaptação do texto ficou a cargo de Eurico
Silva. O elenco contava com Ísis de Oliveira, Iara Sales, Paulo Gracindo,
Abigail Maia, Roberto Faissal e outros. A novela ficou em cartaz até setembro
de 1952, perfazendo um total de 260 capítulos irradiados.
No
mesmo ano o animador Héber de Bôscoli voltou com A
felicidade bate à sua porta,
programa de auditório que ia ao ar aos domingos. A peculiaridade do programa
era a de contar com furgão, devidamente equipado para transmissões externas,
que percorria os bairros da cidade em busca do ouvinte que tivesse a carta
sorteada. O patrocinador era a União Fabril Exportadora e, se o sorteado
pudesse provar que possuía em sua casa um dos produtos do patrocinador, ganhava
os prêmios. A entrega dos prêmios contava com a presença da cantora Emilinha
Borba, na época um dos maiores fenômenos de popularidade.
Ainda em 1951, a Rádio Nacional recebeu autorização para
realizar os primeiros testes para a instalação de um futuro canal de televisão.
Neste período pertencia aos quadros da Rádio Nacional a maioria dos artistas
mais famosos. Tal fato pode ser verificado através do concurso dos “Melhores do
Rádio de 1951”, realizado pela Revista do Rádio, no qual somente um dos escolhidos em todas as categorias
não era integrante da Rádio Nacional. Apesar dos constantes esforços dos
profissionais ligados à emissora, o projeto de TV Nacional nunca se
concretizou.
Em 1953 foi inaugurado um novo estúdio de radioteatro,
considerado o melhor do mundo em termos de recursos. No mesmo ano foi ao ar a
série Jerônimo,
o herói do sertão, de Moisés Weltman, que ficou no ar até 1967. Era irradiada
de segunda a sexta-feira às 18:35h, sob o patrocínio de Melhoral e do Leite de
Magnésia de Philips. Durante um largo período, o papel principal foi
interpretado por Mílton Rangel. Em 1972, o seriado voltou ao ar, mas por pouco
tempo.
Em
1956, ao completar 20 anos, a Rádio Nacional ocupava os quatro últimos andares
do Edifício A Noite e contava com seis estúdios e um auditório com 496 lugares
no 21º andar. No mesmo ano, Moacir Areias passava a ocupar o cargo de
diretor-geral. A emissora continuava a obter excelentes índices de audiência,
tendo como principais atrações as radionovelas e os programas de auditório.
Entre os anos de 1956 e 1964, a programação da Rádio Nacional manteve o mesmo estilo, sendo que os níveis de audiência
começaram a apresentar um ligeiro declínio. A grande expectativa da época era a
da criação da TV Nacional do Rio de Janeiro, que nunca veio a ser realizada.
Em 2 de abril de 1964 Mário Neiva Filho foi nomeado o novo
diretor da Rádio Nacional. No dia subseqüente ao golpe militar, a Rádio
Nacional do Rio de Janeiro foi posta sob vigilância e teve início um processo
de perseguição política a muitos dos funcionários da emissora. Uma comissão de
investigação sumária foi imediatamente instalada. Em 23 de julho de 1964, foi
expedido um decreto demitindo da Rádio Nacional os seguintes funcionários:
Heitor dos Prazeres, Dalísio Machado, Edmo do Vale, Elias Haddad, Gerdal Renner
dos Santos, Iracema Ferreira Maia, Jorge Neves Bastos, José Rodrigues Calasans (o Jararaca), José Marques Gomes, Mário Lago, Penha Marion Pereira,
Rodnei Gomes, Severino do Brasil Manique Júnior, Antônio Ivan Gonzaga de Faria,
Adelaide Andrade Teixeira, Epaminondas Xavier Gracindo (Paulo Gracindo),
Fernando Barros da Silva, Francisco de Assis Pires, José Palmeira Guimarães,
Jairo Argileu de Carmo e Silva, José Geraldo da Luz, João Anastácio Garreta
Prates, Jorge Viana da Silva, Mário Farias Brasini, Newton Marin da Mata,
Oduvaldo Viana, Ovídio Chaves, Paulo Grazioli, Sérgio Moura Bicca, Vanda Lacerda, Alfredo de Freitas Dias Gomes, Antônio Teixeira Filho, José Gomes Talarico, João de Sousa Lima, João Fagundes de Meneses e
Helmicio José Fróis. As investigações continuaram e o resultado foi o de 67
funcionários afastados e 81 demitidos.
A Rádio Nacional, que já vinha perdendo sua posição de
liderança de audiência com a concorrência da televisão, foi duramente atingida
pelo golpe militar de 1964 com a perda de importantes profissionais de seus
quadros artísticos, todos sob a acusação de envolvimento com o Partido Comunista.
O inquérito policial militar terminou sendo arquivado por falta de provas, mas
os funcionários não foram imediatamente reintegrados.
Na
década de 1970, com sua situação financeira bastante debilitada, a Nacional
tentou relançar algumas radionovelas de sucesso. Sob a direção de Daisi Lúcidi,
o departamento de radioteatro levou ao ar a novela A
noite do meu destino,
de Eurico Silva, estrelada por Paulo Gracindo, e Ternura, de
Amaral Gurgel, com a participação de Caubi Peixoto e Cláudio Cavalcanti. O
resultado obtido não foi muito promissor e a emissora desativou o departamento
de radioteatro.
Em
1975, através do Decreto-Lei nº 6.301, foi criada a Empresa Brasileira de
Radiodifusão (Radiobrás), que gerenciava diversas emissoras governamentais,
entre elas a Rádio Nacional. O sistema de ondas curtas da Rádio Nacional
continuou a ser utilizado para as transmissões internacionais dirigidas para o
continente americano, a Europa, África e parte da Ásia. A administração central
da Radiobrás se encontrava em Brasília, sendo que, para cada uma das emissoras
do sistema, era nomeado um gerente.
Em
1980, após um longo processo, alguns dos funcionários punidos pelo golpe
militar de 1964, foram reintegrados à emissora, sendo que 12 deles deveriam
retornar às funções e 14 foram aposentados. Apesar de anistiados, depois de
comprovado que o afastamento se deu de forma indevida, não houve indenização no
que diz respeito aos salários referentes aos 16 anos nos quais os funcionários
se mantiveram fora da emissora. No momento da reintegração a Nacional havia
modificado significativamente sua programação, fazendo com que somente alguns
dos ex-funcionários pudessem ser mantidos na emissora, enquanto outros foram
lotados em outras empresas do sistema Radiobrás.
Em
1996, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro completou 60 anos de existência, sob
a gerência de Osmar Frasão, transmitindo em sua programação de aniversário
antigos programas de sucesso tais como Um
milhão de melodias, Obrigado
doutor e Quando
os maestros se encontram.
A emissora mantinha então no ar programas de famosos radialistas, tais como:
Daisi Lúcidi, Gerdal dos Santos, José Messias, Arlênio Lívio e Humberto Reis, entre outros.
Mesmo com as dificuldades de material e limitações, entre
elas a qualidade da sintonia, pois o parque técnico da Nacional localizado no
Rio de Janeiro estava bastante defasado, principalmente no que se referia a
equipamentos transmissores, a emissora ficou responsável pela produção
jornalística mais importante da Radiobrás, a Revista Brasil, que era transmitida de segunda a sábado e comandada por
Walter Lima em Brasília, tendo como âncora no Rio de Janeiro, José Carlos
Cataldi.
Ao final da década de 1990, no governo de Fernando Henrique
Cardoso (1995-2003), surgiram diversos boatos de que a Rádio Nacional seria
privatizada, mas em janeiro de 1998, foi noticiado que a Radiobrás sofreria uma
grande reformulação a partir da posse de seu novo presidente, Carlos Zarur
(1998-2003). Até 2002, a reformulação total ainda não havia deslanchado, mas
seu presidente anunciou que haveria o lançamento de uma programação de alto
nível, que entraria no ar em junho de 2002, e que esta não acarretaria
demissões entre os 118 funcionários da emissora. Os apresentadores – Daysi
Lúcidi, Gerdal dos Santos, Astrid Nick, Osmar Frazão, Cirilo Reis, entre outros
– teriam seus programas transferidos para o fim de semana e seus horários
semanais seriam cobertos com a nova programação musical, produzida em Brasília. Após esse anúncio, foi publicado no Jornal do Brasil de 20 de maio deste mesmo ano, uma carta assinada por Daisy
Lúcidi e mais 20 funcionários ratificando os problemas da emissora, que segundo
eles estava há 12 anos sem repasse de recursos pela Radiobrás para a manutenção
de seus transmissores e relatavam o afundamento da torre de transmissão no
terreno de Itaoca, no Rio de Janeiro. Por fim, indagavam se a Radiobrás
desrespeitaria a lei aprovada pelo governo que estabelecia “a regionalização
das programações radiofônicas”. Esses questionamentos não foram respondidos
oficialmente, mas a nova programação foi implantada mais discretamente e no
horário noturno, sem atender as expectativas de seus antigos funcionários e não
evitando que a Nacional fosse perdendo cada vez mais sua audiência.
Em 2003, o governo Luís Inácio Lula da Silva (2003-) escolheu
para comandar a Radiobrás o jornalista, advogado e professor universitário
Eugenio Bucci. Ao visitar a Nacional no Rio de Janeiro, Bucci se declarou
“chocado e estarrecido” com a situação encontrada e assinou um convênio de
revitalização da emissora com a Petrobrás, em maio de 2003. Este convênio, da
ordem de R$ 2,5 milhões, seria destinado à reforma das instalações e
reequipamento técnico e beneficiaria também a Rádio MEC, que também emitia de
Itaoca. A reforma foi supervisionada pelo radialista Cristiano Ottoni de
Menezes, que assumiu então o cargo de chefe do escritório regional da Radiobrás
no Rio de Janeiro, e começou com a derrubada das paredes do 21° andar, onde
foram construídos o estúdio Mário Lago, o estúdio de gravação Paulo Tapajós e
uma nova discoteca, assim como a reconstrução de um auditório no mesmo local do
anterior. Equipamentos modernos também foram adquiridos, como o transmissor
Nautel de 50kw, que estava apto a receber a tecnologia digital no momento
oportuno, e um sistema irradiante. Outro grande passo foi a realização de um
concurso público para preencher seu quadro funcional.
A inauguração das novas instalações da Rádio Nacional ocorreu
em 2 de julho de 2004 com a presença do presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva. Entre os convidados, estavam Daisy Lúcidi e Gerdal dos Santos,
com longa atuação na emissora, as cantoras Carmem Costa e Ademilde Fonseca, Ellen Lima e Adelaide Chiozzo. O novo auditório foi inaugurado com o espetáculo do ator Gracindo
Júnior, que havia estreado na Rádio Nacional aos 14 anos, mas fora afastado em
1964, sendo anistiado somente em 1979, com um conjunto regido pelo maestro Ivan
Paulo e participação de grandes nomes do rádio nacional como Jamelão, Cauby
Peixoto e as rainhas Emilinha Borba e Marlene, além de Carmélia Alves e Luciana
Lins.
A partir do Fórum da TV
Pública, liderado pelo então ministro da Cultura Gilberto Gil em 2007, foi
editada a Medida Provisória 398, depois convertida pelo Congresso na Lei 11
652/2008 que visava a criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC),
encarregada de unificar e gerir, sob controle social, as emissoras federais já
existentes, instituindo o Sistema Público de Comunicação. Outra missão da EBC
era articular e implantar a Rede Nacional de Comunicação Pública. Com a criação
da EBC, as oito emissoras de rádio de natureza estatal foram unificadas numa
superintendência dirigida pelo jornalista Orlando Guilhon, cumprindo o objetivo
de implantar o sistema público de rádio e reorientar a programação e a ênfase
de cada um.
Lia
Calabre de Azevedo/ colaboração especial
FONTES: AZEVEDO, L. C. Na sintonia; AZEVEDO, L. C. Estado; BARBOSA, V. ; DEVOS, A. M. Radamés Gnattali; CABRAL, S. Rádio; CABRAL, S. No tempo; LAGO, M. Bagaço; MIN. FAZ. Relatório (1940); MURCE, R. Nos bastidores; Nosso século; ORTRIWANO, G. S. Informação; Portal da Empresa Brasileira de Comunicação. Disponível em
: <http://www.ebc.com.br>. Acesso em : 30 ago. 2009; RÁDIO NACIONAL. 20 anos (1956); RÁDIO NACIONAL. 25 anos (1961); RÁDIO NACIONAL. Rádio (1958); Revista Carioca RJ (12/9/36); Revista Vamos Ler (31/12/42); SAMPAIO, M. F. História; SAROLDI, L. C. ; MOREIRA, S. V. Rádio Nacional.