RAZÃO,
A (São Paulo)
Jornal diário fundado em São Paulo por Alfredo Egídio de
Sousa Aranha, parente de Osvaldo Aranha, no dia 5 de junho de 1931. Teve curta
existência, pois na noite de 23 de maio de 1932 foi empastelado por uma
multidão envolvida no movimento constitucionalista. Seus principais redatores
eram Plínio Salgado e Francisco Clementino de San Tiago Dantas, que contavam
com uma equipe de colaboradores composta, entre outros, por Heráclito Sobral
Pinto, Alceu Amoroso Lima, Brito Broca, E. Vilhena de Morais, Laura Jacobina
Lacombe, Fausto Ferraz, Mário Gracciotti, Silveira Bueno, Eduardo Rossi,
Alberto Conte e André Dreyfuss. Em várias de suas edições publicou matéria
assinada por Alfredo Rocco, então ministro da Justiça e da Educação Pública do
governo italiano, por Fritz Klein, diretor do Deutsche Allgemeine Zeitung de
Berlim, e por Benito Mussolini.
A história da origem do jornal foi relatada por Plínio Salgado
em carta que escreveu a 18 de fevereiro de 1931. Aí Salgado afirmava que o
jornal “terá um caráter de nacionalismo radical”, constituindo-se no “centro de
coordenação dos lugares-comuns do pensamento conservador”, num veículo de
atuação política, dividindo “bem nitidamente a massa brasileira em dois campos
distintos — o dos que pretendem subordinar o homem à máquina e o dos que querem
subordinar a máquina ao homem” enfim, num veículo de “afirmação da
nacionalidade (como) o grande ponto de contato entre todas as correntes que não
se conformam com o materialismo histórico”. Afirmava ainda, na mesma carta, que
“nossa campanha inicial se define: com Deus, e contra Deus. São os dois campos.
Basta, no momento. Para o grande arranco”.
Assim,
A Razão nasceu já como um instrumento nítido de intervenção
político-ideológica, visando a formação de uma opinião pública favorável ao
nacionalismo radical, implementado por um Estado forte e centralizado. Esse
Estado era defendido no editorial redigido pelo próprio Plínio Salgado, e
publicado no dia 2 de setembro de 1931: “A força das ditaduras defende uma
‘base doutrinária’ para a ditadura: a base doutrinária da ditadura é
indispensável ao seu normal funcionamento. É uma condição de sua autoridade. É
um meio de defesa contra as pretensões de seus amigos, que são os elementos
mais ameaçadores nessas épocas normais de vida das nações.”
A adesão do jornal à doutrina fascista alimentada pelas
teorias internacionais era inequívoca. O editorial de 21 de janeiro de 1932
transcrevia o seguinte texto: “O que há de ‘essencial’ na doutrina fascista é
perfeitamente aceitável, como concepção do Estado; como síntese e controle de
atividades; como solução de contendas; como limites de liberdades, a fim de que
estas, tomadas no seu sentido absoluto e anárquico, não conduzam os povos à
tirania dos mais fortes; como coordenação de todas as expressões morais,
intelectuais e econômicas da nacionalidade; enfim, como finalidade social e
individual. É o regime fascista, considerado como doutrina, é o Estado
superando o Estado, delimitando a si próprio as suas áreas de ação, com a
consagração de um de seus postulados basilares que é dos direitos do indivíduo,
da iniciativa privada, da liberdade do cidadão e da família, apenas submetidos
aos interesses superiores da nação. E, assim, enquanto o comunismo mata o
indivíduo em holocausto à coletividade; e enquanto a democracia prejudica a
coletividade, no interesse do indivíduo; e enquanto comunismo e liberalismo se
fundem numa única finalidade, alicerçando o ‘coletivismo’, no egoísmo de cada
um, e fundando-se a república burguesa no egoísmo dos mais poderosos, a
concepção fascista do Estado estabelece a linha do bom senso. É, portanto,
perfeitamente aceitável na essência da sua doutrina, pelos povos que precisam
resolver os seus problemas econômico-sociais.”
Além
de veicular as idéias dos luminares do fascismo, A Razão apresentava como
teóricos nacionais favoritos Alberto Torres e Oliveira Viana. As análises deste
último autor, contidas em Evolução do povo brasileiro, por exemplo, foram
freqüentemente reproduzidas por Plínio Salgado em seus editoriais. Fato
compreensível, na medida em que, no entender daquele redator, “a questão da
autoridade central” constituía a questão máxima do Brasil, “pois do sentido das
suas diretrizes e dos limites de sua ação” dependia “a solução de todos os
problemas que atualmente os preocupavam”. Daí, “a manutenção da ditadura por
mais algum tempo (ser) útil ao Brasil, principalmente pelo contato imediato que
estabelece entre a União e os municípios, passando sobre o espírito
regionalista e feudal dos estados... é preferível deixar agir a ditadura do que
lavrar pelo território do país a varíola das paixões políticas desenfreadas das
competições dos grupos e pessoas às portas de uma constituinte, onde ninguém
saberá o que vai fazer” (29/10/1931).
Em inícios de 1932 o jornal assumiu posição contrária ao
movimento constitucionalista em São Paulo, mantendo-se favorável à Revolução de
1930. Em sua edição do dia 15 de janeiro daquele ano, o jornal criticava os
partidos, que “não falarão a linguagem da nova idade brasileira”, permanecendo
“nos velhos processos sem consonância, nem com as realidades do mundo, nem com
as realidades nacionais”. E no dia seguinte afirmava o editorial: “O manifesto
do Partido Democrático de São Paulo é um documento de índole reacionária.
Poderia firmá-lo o PRP (Partido Republicano Paulista),e estaria no seu papel,
chamando saudosamente pelo retorno do país à sua base constitucional de 1981.”
Para o redator principal do jornal, a Revolução de 1930 “não vinha para forçar
o revezamento das situações, e sim para destruir as instituições que não se
coadunassem com as verdades essenciais da nossa terra e as necessidades do povo
brasileiro... O manifesto do Partido Democrático apóia-se sobre uma base
precária e deduz uma conclusão falsa. A revolução tem de prosseguir nesta
treva, pois esta treva é fecunda. Tem de estabelecer mesmo a confusão, pois
será ela a grande nebulosa de que sairá um grande Brasil”.
Enfim,
as linhas político-doutrinárias do jornal, delineadas claramente a partir dos
seus editoriais, baseavam-se na defesa do Estado como ordenador e controlador
de todas as instituições sociais, Estado este antiliberal, antidemocrático e
anticomunista, contrariando o pluralismo partidário, no combate à Constituinte
e na defesa da implantação da nova idade brasileira: o Estado integralista. Em
resumo, o Estado era visto, pelos editores de A Razão, como “síntese e
diretriz da nação” (21/10/1931).
Amélia Cohn/Sedi Hiranocolaboração especial
FONTE: CHASIN, J.
Integralismo.