REALIDADE
Revista
mensal de âmbito nacional, fundada em abril de 1966 por Vítor Civita, presidente
da Editora Abril. Saiu de circulação em 1976.
Realidade sofreu
durante os anos que foi publicada diversas modificações em sua linha editorial,
na composição gráfica e na tiragem.
Na
primeira fase da revista, de 1966 a 1968, as primeiras edições privilegiavam a
abordagem de temas polêmicos ligados à política e ao comportamento. Realidade
produziu reportagens enfocando a Revolução Cultural na China, a ditadura de
François Duvalier no Haiti e a participação brasileira na ocupação da República
Dominicana em 1965, além de publicar entrevistas com personalidades políticas
já exiladas: João Goulart, Leonel Brizola, Celso Furtado e Ademar de Barros,
entre outros.
Desde
cedo a revista tornara-se uma preocupação para a censura. Foi, contudo, devido
a reportagens de comportamento que a revista teve sua primeira apreensão em
janeiro de 1967, por ordem dos juizados de Menores dos estados da Guanabara e
de São Paulo. Tratava-se de uma edição especial sobre a mulher que trazia estatísticas
sobre aborto, entrevistas com mães solteiras, debates sobre a virgindade e
fotografias de um parto. Dos 475 mil exemplares que haviam sido publicados
apenas duzentos mil chegaram aos leitores, sendo o restante apreendido sob a
alegação da edição ser “obscena e ofensiva à dignidade da mulher”. Na edição
seguinte, a revista reagiu em seu editorial, alertando sobre os riscos que a
imprensa corria.
Durante
o ano de 1968 a revista desafiou repetidas vezes o regime político, publicando
trechos dos Diários de Che Guevara, questionando o celibato na Igreja
Católica, entrevistando vietcongs (guerrilheiros do Vietnã do Norte),
líderes políticos que defendiam a redemocratização do Brasil, representantes
das tendências que faziam parte da União Nacional dos Estudantes (UNE), entre
eles os líderes estudantis Luís Travassos e Vladimir Palmeira.
Realidade
recorreu a uma ampla utilização de fotografias e ilustrações, preocupando-se em
estabelecer relações entre os padrões estéticos da fotografia com o texto.
Destacou-se também na revista a preocupação de que sua cobertura jornalística
contasse com a presença de seus repórteres nos locais dos acontecimentos.
Exemplo destas estratégias de cobertura jornalística foi a reportagem de
Hamílton Ribeiro sobre a guerra do Vietnã: na capa da revista, a foto do
repórter sendo socorrido após a explosão de uma mina que lhe amputou a perna
esquerda. Outro exemplo coube a Paulo Patarra, que em dezembro de 1968
conseguiu uma entrevista exclusiva com o dirigente do Partido Comunista
Brasileiro, Luís Carlos Prestes, e descrevia na reportagem as regras de
segurança a que teve de submeter-se para não descobrir e manter secreto o local
do esconderijo.
No início de 1969, na segunda fase da revista, os jornalistas
Sérgio de Sousa e Paulo Patarra deixaram a redação, sendo substituídos por
Paulo Mendonça e Mílton Coelho da Graça. Nesse mesmo ano houve modificações
sobre o elenco de temas tratados por Realidade e na composição de suas
reportagens. Começaram a ganhar maior destaque reportagens de teor
comportamental, principalmente as que enfocavam temáticas sobre medicina e
curiosidades científicas. As reportagens sobre política brasileira passaram a
enfocar muito mais as iniciativas governamentais, além de entrevistas com os
dirigentes do regime político surgido após a instauração do Ato Institucional
nº 5 em 13 de dezembro de 1968.
Realidade
começou também a lançar sucessivamente mão do expediente de pesquisas de
opinião. Em novembro e dezembro de 1969 foram publicadas as expectativas da
revista sobre o então futuro presidente da República, general Emílio Garrastazu
Médici. A revista publicou vários dados da biografia do presidente que
revelavam a sua capacidade de liderança, não economizando em adjetivos: “bom
menino”, “bom moço”, “bom conspirador”, “bom militar”, “bom revolucionário”,
“bom pai” e “bom amigo”. Poesias também foram publicadas para homenagear o
futuro presidente.
Nesse período sua tiragem caía mês a mês: dos 475 mil
exemplares vendidos em setembro de 1966, começou o ano de 1969 com 435 mil,
caindo para 365 mil em agosto do mesmo ano. Em outubro, Realidade parou
de publicar sua tiragem e passou a dedicar-se a grandes reportagens sobre o
Brasil. A primeira delas foi um número especial, com 330 páginas, publicado em
julho de 1970, sobre a situação econômica e as perspectivas de crescimento do
país. Outras edições seguiram esse mesmo tipo de estratégia, surgindo então
grandes reportagens sobre as metrópoles brasileiras, o Pantanal, a Amazônia, o
Nordeste, entre outras que envolviam toda a equipe de jornalistas da revista,
tanto nas pesquisas quanto na redação das reportagens.
Em agosto de 1970 houve modificações na revista. Tais
mudanças foram apresentadas por Paulo Mendonça, então diretor de redação, como
adequações à nova realidade do país. A revista tornou-se mais ilustrada,
os textos mais curtos e maior número de reportagens, que enfocavam
principalmente os temas relativos aos costumes, modas e serviços. Ao mesmo
tempo voltaram a ser publicadas reportagens de natureza mais polêmica,
envolvendo temas como a Igreja, a situação social dos trabalhadores que viviam
com o salário mínimo no Brasil e entrevistas com personalidades políticas que
se opunham ao regime militar. Das entrevistas, a mais importante foi a do
ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Esta fase culminou em setembro de 1973, quando anunciou-se o
término do projeto jornalístico original da revista e o nascimento de uma
“nova” Realidade.
Nessa sua nova fase foi Ulisses Alves de Sousa quem ficou à
frente da direção da redação. Uma primeira característica foi o seu formato um
pouco menor na largura e na altura. Mudaram também os textos, que ficaram ainda
menores e mais diversificados. Passou a publicar diversas reportagens que muito
se aproximavam de certos guias para o dia-a-dia ou manuais de auto-ajuda. Desta
forma surgiram muitas reportagens que pretendiam oferecer dicas sobre a
resolução de diversos problemas, entre eles: Manter a sua empregada doméstica,
“Passar no vestibular”, “Conseguir uma bolsa de estudos no exterior” e “Se
proteger da inflação”. A preocupação maior era mostrar aos leitores como era
possível “vencer na vida”, sendo inclusive esse o tema principal da edição de
novembro de 1973.
Em janeiro de 1976, Realidade publicou previsões para
o ano que então começava. Tais previsões eram muito pessimistas em relação aos
rumos da economia brasileira e mundial, com a revista fornecendo algumas dicas
aos seus leitores de como tentar passar ileso pela onda de crise. Realidade,
porém, foi extinta alguns meses depois.
Dimas
Sales Pereira
Júnior
FONTES:
KOECHE, A. A revista; MAIA, M. Realidade; Realidade.