SÃO PAULO, O
Semanário
católico lançado em São Paulo em 25 de janeiro de 1956 como sucedânio de O
Legionário. O primeiro
número assim anunciava o novo jornal: “Não surge ele com os aparatos e reclames
costumeiros das coisas sem fundamento. Não tem pretensões de ser uma obra-prima
[já que], tantas vezes, os excessos de entusiasmo... levam à ruína
empreendimentos novos.” O jornal surgia porque nossos braços não podem se
cruzar indiferentes ante a cruzada da boa imprensa. O movimento é terrível e
estamos absolutamente convencidos de que a importância da imprensa não tem
limites em face do apostolado. E se todos os meios modernos de difusão de
idéias devem ser utilizados para fazer o bem, cabe à imprensa um certo lugar de
primazia se considerarmos as palavras de Pio XII, que chamou de “meio
indispensável do apostolado moderno” (15/1/1956).
De
fato, O São Paulo manteve
em sua direção Luís Tolosa Filho, Maria Lúcia Sampaio Pinto, monsenhor José
Lafayette Álvares, como assistente eclesiástico, e o professor Fernando Soares,
como diretor de publicidade. Sua edição usual circulava com 12 páginas,
semanalmente, e com uma linha editorial que consistia em “orientar os católicos
e formá-los na apreciação das coisas e dos fatos à luz da eternidade”
(25/1/1956). De agosto de 1957 a abril de 1964 dom Vicente Marchetti Zioni
permaneceu como diretor e José Lafayette Álvares ocupou o cargo de
vice-diretor, assumindo seu lugar na chefia da redação Armando Luís de Paula
Leite. O periódico surgiu e evoluiu como um jornal católico subordinado ao
“magistério eclesiástico” em que somente “os bispos são mestres da fé e da
moral” que deviam ser difundidas.
Quando
da renúncia de Jânio Quadros em agosto de 1961, O
São Paulo afirmou
que esta “não se deveu nem à pressão do Exército nem à pressão religiosa”
(3/9/1961), a despeito das matérias francamente contrárias à política externa
do presidente, nas quais o anticomunismo era destaque: “Reatamento com a Rússia
só nos trará desvantagens” (5/3/1961); “O Brasil não aceitará uma República
comunista no hemisfério” (28/5/1961); “O comunismo na Bolívia quer liquidar com
a Igreja” (9/7/1961).
Nos
últimos meses de 1962 e início de 1963, quando o grande debate político era a
questão do parlamentarismo e do presidencialismo, lia-se em suas páginas: “As forças
morais que ainda restam no país — o bom senso e a religião — já se pronunciaram
sobre o assunto, declarando que o povo deve votar expondo a preferência ditada
pela consciência” (6/1/1963). E uma semana depois anunciava: “O Brasil volta ao
presidencialismo.” A 3 de fevereiro de 1963 o periódico assim acolhia o novo
governo: “Apolítico por força de sua natureza, O São
Paulo faz votos para que o
governo que agora se inicia atenda realmente às necessidades do estado líder na
Federação há tanto tempo afastado, na realidade, da imediata direção dos
negócios públicos.” Em junho daquele mesmo ano, o jornal, em editorial,
colocava-se acima da direita e da esquerda: “Nem direita, nem esquerda:
acima... A crise atual nesta parte da América Latina está exigindo providências
radicais, concordamos. As estruturas precisam ser modificadas. A repartição dos
bens há de aumentar para que todos participem deles.” E mais adiante:
“Julgamos, portanto, que os católicos devem ser esclarecidos, para não deixarem
levar nem para a ‘esquerda’, nem para a ‘direita’, pois devem ficar é com a
Igreja, com a verdade. Que, combatendo o comunismo ou o capitalismo, saibam
distinguir as coincidências aparentes e as discrepâncias irredutíveis
existentes entre a doutrina social católica e as teorias marxistas” (2/6/1963).
Em 1964 dom Agnelo Rossi sucedeu ao cardeal Carmelo Mota no
governo da arquidiocese de São Paulo. A linha editorial do jornal não sofreu
profundas alterações, em que pese aos acontecimentos nacionais. O São Paulo, antes e depois dos acontecimentos de março de 1964,
continuou favorável às reformas.
No segundo semestre de 1966, no entanto, o semanário católico
passou a ter como diretor dom Paulo Evaristo Arns. Essa mudança exigiu, no
entender de um leitor, uma explicação. Eis um trecho da resposta do jornal:
“Nosso esforço está concentrado em carrear para as colunas deste semanário
maior conteúdo de leitura. Estamos dando grande atenção ao magistério oficial
da Igreja, permitindo aos leitores acompanhar de perto as atividades e ensinamentos
do papa. O nosso cardeal está também ocupando um lugar que de justiça o órgão
católico da arquidiocese lhe deve consagrar. Além disso, estamos valorizando
todo o noticiário relativo à arquidiocese e à cidade em particular. Cumpre notar que estamos redigindo um semanário e não um diário. Portanto, somos
obrigados a repetir notícias, mas só aquelas com alcance superior ao
imediatismo do dia” (11/9/1966).
Em março de 1967 o semanário anunciou o novo presidente da
nação e em editorial intitulado “O que esperamos de Costa e Silva” emitiu os
seguintes preceitos: “O ideal cristão para todo chefe de Estado se traduz em
três termos: seja fiel, justo e pacífico. Fiel à aliança e à lei, quer dizer à
tradição cristã do povo brasileiro e à Constituição que lhe deveria traçar as
grandes normas para a hora presente. Justo: que reconheça a limitação de seu
poder e promova o bem de todos, respeitando os direitos invioláveis da pessoa
humana. Pacífico: que mantenha a tranqüilidade da ordem, ou como diz o papa Paulo
VI, favoreça de tal forma o desenvolvimento, que todos tenham acesso aos bens
necessários para uma convivência tranqüila” (19/3/1967).
A
partir de outubro de 1968 O São
Paulo sofreu novas
transformações, modernizando-se. Esse processo já vinha ocorrendo, como pode
ser observado pela paginação e apresentação das matérias, porém só naquela data
ele se transformou num jornal polêmico. A direção geral continuou sendo de dom
Paulo Evaristo Arns, assumindo a redação Valdemar A. F. Ramos e a administração Francisco Dias e Carlos Cosso.
Em
1970 dom Paulo Evaristo Arns substituiu dom Agnelo Rossi no governo da
arquidiocese. Nesse momento o periódico passou a sofrer mutilações
irreparáveis, tendo seus editoriais, reportagens e notícias cortados pela
censura. Foi a partir de então que emergiram os atritos entre a arquidiocese e
o Estado, permanecendo o semanário por pelo menos sete anos sob censura. Dentre
as matérias vetadas, cortadas ou mutiladas figuravam as de autores como Tristão
de Ataíde, Valdeci Tenório (editor-chefe do jornal) e dom Hélder Câmara. Ao
pregar o diálogo com todos como missão da Igreja e mostrar-se disposto sempre a
“ver, julgar e agir”, isto é, ao defender uma Igreja voltada para a realidade
concreta, a linha editorial do jornal foi perdendo seu
traço acentuadamente anticomunista, sem que naquele período pudesse
substituí-lo pela marca da “Igreja voltada para a realidade”. O obstáculo, até
depois de 1975, era a censura. Ainda a edição de 9 de abril de 1977 apresentava
toda a terceira página em branco, tendo sido o editorial totalmente censurado.
A censura manteve-se ainda durante todo o ano de 1978. Em sua
edição de 2 junho de 1978, os editores do jornal conseguiram burlá-la
imprimindo o título das reportagens sob quadros vazios: “Os trabalhadores e a
política” ou “Existem greves legítimas” eram alguns desses títulos.
Durante a década de 1980, faziam parte de seu conselho
editorial, além do cardeal Paulo Evaristo Arns, Plínio de Arruda Sampaio, Hélio
Bicudo, Gilberto Gorgulho, Júlio Munaro, Alamiro Andrade e Silva e várias
comissões ligadas à defesa dos direitos humanos.
Neste
período o jornal esteve engajado em importantes lutas como nas reportagens
sobre o trabalho e a exploração no campo, vinculadas à discussão sobre a
reforma agrária. Apoiou também a campanha pela conquista do sindicato dos
metalúrgicos de São Paulo por lideranças consideradas mais representativas.
Ainda nos anos 1980, o problema dos desaparecidos políticos
continuou a ser um assunto constante em suas páginas. Em maio de 1981, por
ocasião do atentado do Riocentro — quando uma bomba explodiu num veículo no
estacionamento do centro de convenções carioca, onde se realizava um show em
homenagem ao Dia do Trabalho —, o jornalista e advogado Hélio Bicudo escrevia em O São Paulo : “Não há
que falar aqui, em organizações paramilitares mas na responsabilidade de
militares no exercício de atribuições especiais, envolvendo as classes armadas
e desmentindo a sua vocação democrática.”
A partir de fins dos anos 1980 e início dos anos 1990, O São Paulo ganhou nova direção e assumiu feições mais institucionais,
passando a dedicar mais espaço ao noticiário oficial das diversas instâncias
hierárquicas da Igreja.
Na década seguinte, além da edição impressa, O São Paulo passou a disponibilizar uma edição eletrônica através do
Portal da Arquidiocese de São Paulo.
Amélia Cohn/Sedi
Hirano colaboração
especial
FONTE: O São Paulo; POPRTAL DA
ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO; O São Paulo; disponível em: http://www.arquidiocese-sp.org.br/jornal_o_sao_paulo/o_sao_paulo_quem_somos.htm;
acesso em: 18/12/2009.