SOCIEDADE
AMIGOS DA AMÉRICA
Sociedade civil fundada em 1º de janeiro de 1943 no Rio de
Janeiro, então Distrito Federal, com o objetivo declarado de apoiar a luta dos
Aliados na Segunda Guerra Mundial pela preservação dos “ideais democráticos” e
contra o totalitarismo. Constituiu na verdade um núcleo de oposição ao
Estado Novo, sendo por isso fechada em 1944. Reaberta em 1945, foi em pouco
tempo absorvida pela União Democrática Nacional (UDN).
Tendo
na figura do general Manuel Rabelo um de seus principais articuladores, a
sociedade contou com a presença do embaixador norte-americano Jefferson Caffery
em seu ato de fundação, realizado no Teatro Municipal. Procurando unir todos os
setores de oposição ao regime de Getúlio Vargas, a organização teve porém
especial cuidado em impedir o acesso de comunistas a seu quadro de associados,
chegando a recorrer ao auxílio do chefe de polícia do Distrito Federal, Alcides
Etchegoyen, para efetuar uma seleção.
Durante
o ano de 1943, a sociedade juntou-se aos diversos setores oposicionistas —
principalmente às entidades estudantis — que exigiram o alinhamento de Vargas
ao lado dos Aliados. Essa campanha, que denunciava também a existência de
elementos fascistas dentro do governo, difundia críticas ao regime,
comparando-o com os de Hitler e de Mussolini. A participação da Sociedade
Amigos da América no movimento pró-alinhamento se fez através da promoção de
conferências em sua sede, nas dependências do Automóvel Clube, e do lançamento
de um bônus em benefício dos Aliados. Essas atitudes valeram à organização a
observação constante da polícia política.
Em 1944, a sociedade preparou-se para eleger sua primeira
diretoria permanente. O general Rabelo convidou Osvaldo Aranha, ministro das
Relações Exteriores, para concorrer à vice-presidência, em nome dos esforços
que este sempre desenvolvera para colocar o governo brasileiro ao lado dos
Aliados. Diante da resposta positiva de Aranha, foi definida uma chapa da qual
faziam parte, além dos já citados, Antônio Reis de Carvalho, o general Cândido
Mariano da Silva Rondon, Hermes Lima, Jéferson de Lemos, o general João Guedes
da Fontoura, o general Júlio Caetano Horta Barbosa e Odilon Braga.
Da carta-plataforma apresentada por esses candidatos
constavam os seguintes pontos: apoio ao envio de um corpo expedicionário à
Europa e combate aos elementos ligados ao Eixo no Brasil, integrantes da chamada
“quinta coluna”; formação de uma frente nacional antifascista e apoio à Carta
do Atlântico, acordo firmado entre Churchill e Roosevelt em 1941 para
definir a participação dos EUA na guerra; luta pelas liberdades públicas
e individuais e pela anistia ampla; luta em prol da solidariedade
pan-americana, e defesa do estreitamento das relações com os Aliados,
especialmente os soviéticos.
Realizadas as eleições, a posse da diretoria foi marcada para
o dia 10 de agosto de 1944.
No
entanto, pouco antes, os diretores da sociedade receberam um comunicado da
polícia proibindo a realização da solenidade. Embora a cerimônia não tivesse
sido realizada, no dia 11, estando Osvaldo Aranha nas dependências do Automóvel
Clube, este foi invadido e a sociedade foi fechada por ordem do chefe de
polícia, Coriolano de Góis.
A repressão violenta à sociedade coroou a crise entre Vargas
e Osvaldo Aranha, que se exonerou do Ministério das Relações Exteriores. Ao
mesmo tempo, o Tribunal de Segurança Nacional determinou a prisão de cerca de
15 associados, provocando com isso um movimento de solidariedade à organização,
que recebeu o apoio, entre outros, da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Nenhum desses episódios foi noticiado pela imprensa, por ordem do Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP).
Em
5 de abril de 1945, quando a queda do Estado Novo já se anunciava, a Sociedade
Amigos da América foi reaberta, intimamente vinculada à formação da UDN. Essa
ligação, reafirmada num manifesto lançado em 20 de abril em apoio à candidatura
de Eduardo Gomes à presidência da República, acabou por significar a absorção
da sociedade pelo partido.
FONTES: ARQ.
OSVALDO ARANHA; BASBAUM, L. História; CARONE, E. Terceira; SILVA, H.
1945.