TARDE, A
Jornal vespertino lançado em Salvador no dia 15 de outubro de
1912. Foi fundado por Ernesto Simões Filho e atualmente é propriedade de seus
descendentes. É o maior e o mais importante jornal do estado da Bahia.
Os
primeiros números de A
Tarde foram impressos numa
velha Marinoni manual, instalada num pardieiro à rua da Preguiça. O jornal
começou a circular com apenas quatro páginas, mas, rompendo os padrões
tradicionais do jornalismo, promoveu verdadeira revolução entre os diários do
estado e entre o público leitor. A primeira bateria de linotipos foi instalada
em agosto de 1920, quando A
Tarde foi transferida para
antiga sede do Banco do Brasil, na rua Santos Dumont. Cerca de dez anos depois,
A Tarde inaugurou
novas instalações, em sede própria, na praça Castro Alves. Em 1949, o
jornalista Jorge Calmon assumiu a função de redator-chefe, submetendo o jornal
a profundas transformações na linha editorial, caracterizando melhor as seções,
especialmente o então chamado artigo de fundo.
República
Velha
A Tarde surgiu numa tensa atmosfera política, gerada pela prática da
“política das salvações”. A cidade de Salvador havia sido bombardeada
(10/1/1912) e J. J. Seabra, ministro da Viação na presidência Hermes da
Fonseca, fora guindado à chefia do Executivo baiano. Simões Filho havia
iniciado sua carreira política e também seu aprendizado jornalístico sob os
auspícios de Seabra. Mas, à medida que as facções oposicionistas locais
rearticulavam-se sob o comando de Pinheiro Machado, cujos interesses políticos
haviam sido seriamente atingidos pela política das salvações, Simões Filho
afastou-se, gradativamente, de Seabra. Em janeiro de 1913, quando se efetivou o
rompimento político entre Seabra e Luís Viana, representante do “pinheirismo”
na Bahia, o fundador de A Tarde formalizou o seu desligamento do grupo seabrista. Seis anos
mais tarde, fez parte integrante das Oposições Coligadas, que promoveram a
“revolução sertaneja”, para pôr fim ao domínio de Seabra.
A
linha de atuação de A
Tarde foi definida no seu
primeiro número. Vespertino informativo, pretendia ser “imparcial, mas não
indiferente; neutro, mas não se esquivaria das controvérsias partidárias”.
Seria “mais sereno do que violento” mas, “se atacado, repeliria a ofensa à
altura”. Principalmente na sua primeira e terceira fases (1912-1924 e
1930-1937) A Tarde assumiu
postura combativa e mesmo fustigante em relação aos governos estabelecidos.
Firmando esta diretriz estava a figura de Simões Filho, que, enquanto viveu
(1886-1957), foi a força propulsora do jornal. Na maioria das vezes, a posição
do jornal em face dos problemas locais e nacionais confundia-se com a do seu
fundador, diretor e proprietário.
No
que diz respeito à composição do jornal, A
Tarde rompeu os padrões
tradicionais do jornalismo, introduzindo, na Bahia, a imprensa moderna, segundo
o modelo de A
Noite, do Rio. A titulação
destacada, a inserção do artigo de fundo fora da coluna de abertura, o
abundante noticiário ilustrado foram algumas das inovações que A
Tarde trouxe para a imprensa
baiana. Simões Filho cercou-se de eficientes colaboradores e de profissionais
conceituados, tais como Henrique Câncio, recrutado do Diário
da Bahia, e
Carlos Chiaccio que, durante 18 anos (1928-1946), assinou uma seção de crítica
literária, “Homens e obras”, de grande repercussão no meio literário e
artístico baiano. Na verdade, até recentemente, A
Tarde constituiu-se num
instrumento de incentivo à produção intelectual na Bahia.
No
plano político, a atuação de A
Tarde na República Velha pode
ser dividida em duas fases. A primeira, de 1912 a 1924, correspondeu ao período de dominação política de J. J. Seabra na Bahia. A
Tarde foi, nesse período, o
principal órgão de expressão das forças oposicionistas. Ao longo dos seis anos
seguintes e que antecederam a Revolução de 1930, A Tarde
foi porta-voz da elite no
poder. Em contraste com essa segunda fase, A
Tarde desenvolveu, na primeira,
uma série de campanhas de opinião, própria do jornalismo afirmativo. É fora de
dúvida — afirma Jorge Calmon, um dos atuais diretores do jornal — que todas
essas campanhas foram de iniciativa de Simões Filho, “homem de um tremendo
poder de improvisação e dotado daquela versatilidade e disposição para a luta
que o fizeram tão admirado pelos que com ele conviveram, quanto temido pelos
adversários”.
A primeira dessas campanhas, que culminou em setembro de
1914, girou em torno do desvio de parte vultosa de empréstimo externo (1,5
milhão de libras esterlinas) contraído pela municipalidade de Salvador. O
intendente (cargo correspondente ao atual prefeito) Júlio V. Brandão e a firma
Guinle & Cia., acusados de malversações dos dinheiros públicos, foram
arrolados em processo judiciário. Ainda em 1914, o Supremo Tribunal Federal
determinou o seqüestro de 3.700 contos de Guinle & Cia. e o intendente foi
afastado, durante certo tempo, de qualquer função público-administrativa no
país.
Igualmente acalorada foi a campanha contra a administração de
outro intendente de Salvador, Pacheco Mendes. As críticas severas que A Tarde formulava contra os desmandos da administração municipal
foram acompanhadas, a partir de junho de 1916, por quadras satíricas, que
contribuíram para acelerar o desgaste político do intendente, ao tempo em que
faziam crescer o prestígio de A Tarde junto à opinião pública. A campanha terminou com a deposição
do intendente, o que deu lugar à última quadra: “Toda a cidade, da Graça/ ao
Itapagipe, bramiu:/ Foi-se o azar, foi-se a desgraça,/ Pacheco Mendes saiu!”
A
última grande campanha movida por A
Tarde nessa primeira fase foi em
torno da sucessão governamental de 1919-1920, e visava impedir o retorno de J.
J. Seabra ao governo do estado. Liderada por Rui Barbosa, Simões Filho, Otávio
Mangabeira e Pedro Lago, ela também contou com a participação ativa da
Associação Comercial da Bahia, o mais eficiente instrumento de pressão das
chamadas “classes conservadoras” na Primeira República.
Eventualmente
unidas por aquele objetivo comum, as facções oposicionistas manipularam a seu
favor os movimentos grevistas de junho e setembro de 1919, bem como as acirradas
disputas, então travadas, entre os “coronéis” do interior. Fomentando a
agitação social, a oposição procurava forçar a intervenção federal, que poderia
impedir o reconhecimento de Seabra, já eleito, e dar lugar a novas eleições.
Vale
observar que, quando as manifestações operárias ameaçaram ultrapassar o limite
desejado pela elite em oposição, A
Tarde assumiu atitude
conciliatória e Simões Filho foi feito mediador entre operários e patrões. O
acordo resultante não foi cumprido pelos empresários e o movimento grevista
ressurgiu mais forte em setembro de 1919, quando os operários rejeitaram a
intermediação de quaisquer indivíduos estranhos à sua classe. Em contraste, A
Tarde estimulou, até a
decretação da intervenção federal (20/2/1920), as lutas entre os “coronéis”,
incitando-os a avançar em direção a Salvador. A agitação interiorana foi
rotulada de “revolução sertaneja”, destinada a “libertar a capital do jugo dos
opressores”. A intervenção federal, contudo, não favoreceu a oposição. Seabra
rejeitou a proposta do presidente Epitácio Pessoa para renunciar em benefício
de um candidato de conciliação e governou a Bahia pela segunda vez (1920-1924).
A ascensão de Francisco Marques de Góis Calmon ao governo do estado (1924-1928) marca o início da segunda fase de A Tarde na República Velha. Simões Filho foi eleito deputado federal
em abril de 1924; A Tarde abandonou a trincheira oposicionista e passou a servir de
suporte à elite no poder. Radicado no Rio, Simões Filho não perdeu contato com
o jornal, mas não o dirigia pessoalmente. Indicou o jornalista Ranulfo de
Oliveira para o posto de redator-chefe.
A
Revolução de 1930 e a campanha autonomista
Revelando o comprometimento político do seu fundador, A Tarde foi contra a Revolução de 1930. Líder da bancada baiana na
Câmara Federal, Simões Filho havia sido o articulador da candidatura Vital
Soares, governador da Bahia, à vice-presidência da República na chapa Júlio
Prestes. A vitória eleitoral da chapa apoiada pelo Catete reforçou a postura
legalista de A Tarde que, até o último momento, apoiou o governo Washington Luís.
O jornal incentivou o entusiasmo dos “batalhões patrióticos” que se
movimentavam em defesa do governo estabelecido, mas, a 25 de outubro, quando a
revolução surgiu vitoriosa, passou a vibrar com as manifestações “memoráveis”
da população, que, percorrendo as ruas de Salvador, aclamava os chefes
revolucionários.
Durante
as duas primeiras interventorias na Bahia — de Leopoldo Amaral (1/11/1930 a
18/2/1931) e Artur Neiva (18/2 a 15/7/1931) — A
Tarde teve atuação anódina. Com
a instalação, na Bahia, da Comissão Central de Sindicância, órgão da justiça
revolucionária, A
Tarde e o seu proprietário, bem
como muitos outros membros da elite política deposta, foram arrolados em
processo judiciário. Simões Filho partiu em exílio para a Europa, voltando ao
Brasil em fevereiro de 1932. Os órgãos da justiça revolucionária
desintegraram-se em dezembro desse mesmo ano, sem que a maior parte dos
processos chegasse a termo. Em novembro de 1932, Simões Filho sofreu novo exílio,
desta vez compulsório, para só regressar um ano depois, em dezembro de 1933.
Diferente do primeiro, o segundo exílio foi motivado pela atuação implacável de
A Tarde em
relação ao governo do tenente Juraci Magalhães.
Sem dúvida, a mais ferrenha campanha política conduzida por A Tarde foi contra o primeiro governo Juraci Magalhães (19/9/1931 a
10/11/1937). A maior parte da elite política baiana recebeu a nomeação do jovem
tenente como uma afronta. Apresentaram razão tríplice: Juraci era cearense,
militar, sem qualquer vínculo com a Bahia, e muito jovem (26 anos), sem
qualquer experiência administrativa. Contra o seu governo opuseram-se as
facções políticas comandadas por Otávio Mangabeira, J. J. Seabra, Simões Filho,
Miguel Calmon e Pedro Lago. Com exceção do segundo, todos sofreram o exílio,
após a vitória da revolução. Em conseqüência, as facções oposicionistas
encontravam-se dispersas e desarticuladas. Foi a Revolução Constitucionalista
de São Paulo que atuou como fator aglutinador daquelas facções. E, como em São Paulo, a oposição local defendeu um interventor “civil e baiano”, para o governo do
Estado.
A partir de 11 de julho de 1932, A Tarde passou a dar cobertura ao movimento paulista, que,
prometendo a restauração do regime legal, a realização de eleições e o
atendimento aos princípios da autonomia federativa, traduzia os anseios dos
membros da elite política no ostracismo. A forte repressão policial que sufocou
o levante dos estudantes da Faculdade de Medicina da Bahia, a 22 de agosto
daquele ano, forneceu, em nível local, elemento decisivo na arregimentação das
forças oposicionistas. Mais ainda, a prisão de 514 estudantes e sete
professores mobilizou a elite intelectual e setores intermediários da sociedade
contra a interventoria Juraci Magalhães. Impotente para conter a crescente
oposição ao seu governo, Juraci recorreu à violência policial, proibiu a
circulação de jornais e consentiu no espancamento de jornalistas.
A identificação da causa dos baianos com a dos paulistas deu
origem, a 5 de janeiro de 1933, à Liga de Ação Social e Política, cuja sigla,
LASP, era freqüentemente traduzida por Liga dos Amigos de São Paulo. A volta de
Simões Filho do segundo exílio (dezembro de 1933) reanimou o partido
oposicionista e reabasteceu as baterias de A Tarde, voltadas contra a administração militar.
Em 1º de março de 1934, por ocasião das comemorações do
aniversário de Rui Barbosa, A Tarde fez veemente apelo ao civismo do povo baiano. Logo a seguir,
foi criada a Ação Autonomista Acadêmica que, na expressão de Jorge Calmon, era
“o grupo de choque da campanha, adubado pelos ressentimentos de 22 de agosto”.
Na primeira página da edição de 17 de março de 1934, A Tarde publicou os manifestos da LASP e da Ação Autonomista
Acadêmica, lançando as bases da “campanha pela libertação da Bahia”. Dois meses
mais tarde, em conseqüência da cobertura dada a incidente ocorrido numa
exposição universitária — dois estudantes rasgaram uma caricatura do capitão
Juraci Magalhães, feita pelo artista Trinchão —, o interventor proibiu, por
tempo indeterminado, a circulação do vespertino A Tarde, comunicando o fato ao ministro Antunes Maciel. Os estudantes
foram deportados para o Pará. O presidente da assembléia geral da Associação
Baiana de Imprensa e diretor-proprietário do Diário de Notícias, Altamirando Requião, intercedeu junto à interventoria em
favor de A Tarde. Juraci Magalhães consentiu que a suspensão do vespertino
fosse limitada a 30 dias, “salvo se circunstância posterior e agravante dos
motivos da suspensão forçar a interventoria a tomar outra atitude”. A despeito
desta ressalva, a campanha de A Tarde contra o governo Juraci Magalhães prosseguiu desenfreada.
O
retorno de Otávio Mangabeira ao Brasil (agosto 1934), após quatro anos de
exílio na Europa, mereceu ampla cobertura de A
Tarde, em edições consecutivas.
Transformando a LASP na Concentração Autonomista, Mangabeira deu maior coesão à
oposição que, através de A
Tarde, exigia a “retirada
definitiva dos invasores da Bahia”. Seguidamente, o jornal publicou inflamantes
discursos de J. J. Seabra, Aluísio de Carvalho Filho, Otávio e João Mangabeira,
Pedro Lago e Luís Viana Filho. Ao mesmo tempo, levou a público uma série de
artigos explorando o incidente havido entre o interventor Juraci Magalhães e um
estudante, Joaquim Câmara, do qual resultara bárbaro espancamento do estudante.
No início de janeiro de 1935, A
Tarde anunciou: “Acumulam-se as
provas contra os algozes.” Em seguida, publicou discurso de Seabra que, da
tribuna da Câmara Federal, exibiu um dos chicotes utilizados pelos
espancadores. No mesmo mês, o diretor-proprietário de A
Tarde e o jornalista Venceslau
Galo foram fortemente espancados numa via pública de Salvador. A autoria
intelectual da agressão foi atribuída ao governo, que teria aliciado indivíduos
armados de revólver, cassetete e punhal para o espancamento dos jornalistas. A
violenta repressão reativou a oposição que prosseguiu desabrida, até o golpe de
novembro de 1937.
Estado
Novo
Coerente
com a sua posição de combate ao governo Getúlio Vargas, A
Tarde manifestou-se contra o
golpe de novembro de 1937. Como aconteceu com os demais órgãos de imprensa,
durante o Estado Novo A
Tarde foi submetida à censura
do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Mas, segundo Cruz Rios, atual
redator-secretário do jornal, a vigilância dos agentes do DIP foi, vez por
outra, burlada. Tal aconteceu quando A
Tarde dispôs-se a publicar
discurso do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Montenegro, contra
o regime político e contra o governo local. A censura vetou a publicação.
Simões Filho reagiu e ameaçou requerer um habeas-corpus
ao Supremo Tribunal
Federal, para que o discurso fosse publicado. Acabou por ser divulgado, na
íntegra.
O uso de um cognome, “Peregrino audaz”, foi o recurso de que
se utilizou A Tarde para levar a público notícias sobre Otávio Mangabeira, cujo
nome havia sido proibido de sair nos jornais. Preso após o golpe, Mangabeira
amargava o segundo exílio na Europa. Sob aquele pseudônimo, passou a ser
facilmente identificado pelos leitores.
Em relação ao governo local, A Tarde recebeu com reservas a nomeação do interventor Landulfo Alves
(1938-1942), mas sem grande hostilidade, visto que o seu arquiinimigo, Juraci
Magalhães, havia sido apeado do poder pelo golpe. Landulfo Alves terminou por
conquistar o apoio de A Tarde. Quanto à administração Pinto Aleixo (1942-1945), observa Cruz
Rios, A Tarde foi imparcial, “apesar dos esforços do interventor para obter
uma maior aproximação com o jornal”.
No plano internacional, A Tarde colocou-se a favor das nações aliadas, ao se iniciar a
Segunda Guerra Mundial. O comentarista de assuntos internacionais, na época,
Oscar Viana, era grande admirador da Inglaterra. Simões Filho, por outro lado,
nutria profunda admiração pela França, país que o acolhera no exílio. Além disso,
a posição ideológica do jornal opunha-se ao nazi-fascismo.
Da
“redemocratização” à ditadura militar de 1964
Para as eleições presidenciais de 1945, A Tarde apoiou o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato derrotado pelo general Eurico Gaspar Dutra. Mas acabou por se identificar com o governo Dutra,
devido à “atenção que dispensou aos interesses da Bahia e à ajuda que deu ao
governo Otávio Mangabeira” (1947-1951), como justifica Cruz Rios.
Apesar
de nunca ter se omitido em relação aos problemas nacionais e internacionais,
foi na política local que A
Tarde se afirmou como jornal de
combate e de opinião. A campanha para as eleições de 3 de outubro de 1950 foi
das mais tenazes que moveu, após a “redemocratização”. Para o governo do
estado, apresentaram-se dois candidatos: Juraci Magalhães, pela União
Democrática Nacional (UDN), e o engenheiro Lauro Faranide Freitas, lançado pela
Coligação Democrática, que reunia os partidos Social Democrático (PSD),
Trabalhista Brasileiro (PTB), de Representação Popular (PRP), Social
Trabalhista (PST), a ala autonomista da UDN e a ala dissidente do Partido
Republicano (PR). Otávio Mangabeira manteve-se neutro na campanha, uma vez que
ambos os pretendentes haviam apoiado a sua candidatura ao governo do estado.
Contra a grande popularidade de que então gozava o
“juracisismo”, Simões Filho assestou todas as baterias de A Tarde e, revivendo a campanha autonomista da década de 1930, deu a
palavra de comando: “A Bahia para os baianos.” Não vacilou em reconciliar-se
com Getúlio Vargas, do qual chegou a ser ministro da Educação e Saúde.
A luta atingiu o clímax quando Lauro de Freitas morreu, num
desastre de avião, durante a campanha eleitoral (11/9/1950). O desastre
provocou profunda comoção entre os baianos. Liquidou não apenas o candidato da
“coligação democrática”, mas também a candidatura do coronel Juraci Magalhães,
a partir do momento em que A Tarde estampou, na primeira página da edição de 20 de setembro, uma
pergunta intrigante: “Acidente ou crime?” Repetida em edições posteriores, essa
manchete aventava a possibilidade de ter o desastre sido criminoso — provocado
por juracisistas — e não acidental. Despertando a dúvida e provocando repulsa
geral ante a possibilidade de ser confirmada a versão de sabotagem, aquela
pergunta teve efeito catastrófico para o candidato udenista.
Quase
às vésperas das eleições, foi lançada, por influência de Simões Filho, a
candidatura de Régis Pacheco, prefeito de Conquista durante o Estado Novo. Ao
contrário de Juraci Magalhães, Régis era quase um desconhecido para a grande
maioria dos baianos, mas foi eleito governador. Em que pese à força dos
partidos coligados e o processo eleitoral da época, não é demais afirmar que a
campanha desencadeada por A
Tarde foi decisiva para a sua
vitória.
Não
menos renitente foi a oposição que A Tarde
moveu contra o governador
Antônio Balbino (1955-1959), principalmente na última fase da sua
administração. A fim de impedir que Balbino fizesse o seu sucessor, Simões
Filho admitiu que o seu jornal não se opusesse à candidatura Juraci Magalhães
nas eleições de 1958. Em janeiro de 1957, declarou “não estar mais disposto a
ser capanga dos ódios e malquerenças da política baiana, nem servir de degrau
para que, à custa de suas notórias incompatibilidades com o sr. Juraci
Magalhães, políticos menos qualificados cheguem ao poder”. Considerava-se
quitado com o ex-interventor. Formalmente, A Tarde
apoiou a chapa Vieira de Melo-Hélio Machado. Mas cedeu uma de suas páginas para
a propaganda de Juraci Magalhães, que terminou por governar a Bahia pela
segunda vez (1959-1963).
Ernesto
Simões Filho faleceu em novembro de 1957, mas os seus métodos de fazer jornal
foram mantidos, até certo ponto, por toda uma escola por ele formada. Algo do
seu estilo ficou na linguagem de A
Tarde, declara Jorge Calmon,
gerente administrativo do jornal. Os outros dois membros da atual diretoria são
filhos de Simões: Regina Simões de Melo Leitão, presidente, e Renato Simões,
superintendente.
Apesar das articulações políticas que serviram de respaldo
aos pretendentes a cargos eletivos, o apoio dispensado por A Tarde a determinado candidato funcionou, na maioria dos casos, como
indicador seguro da sua vitória. Antônio Lomanto Júnior não foi exceção. E para
integrar o seu governo (1963-1967) convocou três elementos de destaque de A Tarde: Jorge Calmon ocupou a Secretaria do Interior e Justiça;
Renato Simões, a presidência da Comissão de Planejamento Econômico, e Cruz Rios
a chefia da Casa Civil.
A partir da crise institucional gerada pela renúncia do
presidente Jânio Quadros, os pressupostos liberais apregoados por A Tarde desde a sua fundação revelaram-se inconsistentes e cederam
lugar ao conservadorismo sem disfarce. A Tarde havia apoiado a candidatura Jânio Quadros e, com veemência,
reprovou a sua renúncia. Também se opôs à posse de João Goulart. Manteve-se de
sobreaviso em relação ao seu governo. O comício do dia 13 de março de 1964, na
Guanabara, foi minuciosamente noticiado. O discurso de João Goulart anunciando
a implantação das “reformas de base” foi publicado na íntegra, sem comentários.
Somente no dia 24, A Tarde revelou sua posição em relação ao comício, qualificando-o de
“famigerado”, ao tempo em que denunciava a “bolchevização” do Brasil. Mas desde
o dia 17 de março, quando foram publicados o decreto da Superintendência da
Reforma Agrária (Supra), que, desapropriando terras, dava início à reforma
agrária, e o decreto de encampação das refinarias de petróleo de propriedade
particular, A Tarde havia assestado suas baterias contra o governo Goulart.
Acusou-o de “desmoralizar as instituições democráticas”, de estar de mãos dadas
com os comunistas e de pretender “instalar um governo títere de Moscou, de tipo
igual ao de Cuba”. E, indagando “para quem apelar contra esses desmandos do
caudilhismo”, apontava as forças armadas como depositárias das esperanças
daqueles que almejavam a salvação das “tradições democráticas do Brasil”.
Através
de sucessivos editoriais — “Análise de um comportamento”, “Glorioso 1º de
abril” e “Dentro da lei” — assinados por Renato Simões, A
Tarde apoiou
o golpe militar de 1964. No dia 11 de abril anunciou que o Congresso e o povo
haviam recebido bem o Ato Institucional nº 1. Mas, segundo Cruz Rios: “A
Tarde opôs-se, energicamente,
aos processos usados contra os
adversários políticos do movimento revolucionário e aos atos que suprimiam
eleições, cassavam mandatos etc.” Com o endurecimento do regime, prossegue Cruz
Rios, A Tarde suspendeu,
num gesto de franca oposição, a publicação de seus editoriais e terminou por
recusar-se a aceitar memorandos da censura, se por eles não se
responsabilizasse, com a sua assinatura, a autoridade emitente. Satisfeita esta
exigência, voltou a receber os memorandos. Mas os editoriais só foram
restabelecidos quando o governo anunciou seus propósitos de restauração do regime
democrático, o que não aconteceu até o final do governo Geisel.
No que diz respeito à política local, A Tarde apoiou, por razões variadas, todos os governos estabelecidos
pelo movimento militar de 1964: Luís Viana Filho (1967-1971), Antônio Carlos
Magalhães (1971-1975), Roberto Santos (1975-1979). Também o segundo governo de
Antônio Carlos, iniciado em 1979, mereceu o apoio de A Tarde.
Abertura
democrática
No difícil processo de transição da ditadura para a
democracia, A Tarde manifestou-se fiel à sua tradição liberal. O editorial “Mais
um passo”, de 13 de março de 1979, saudou o fim dos “tempos sombrios”, marcados
pela censura aos jornais e demais órgãos de divulgação. Em edições seguidas,
forneceu ampla cobertura dos movimentos grevistas que, estimulados pelo sucesso
da greve dos metalúrgicos do ABC paulista, se alastraram pelo país, contra a
compressão salarial da política econômica. Aplaudiu o modo como se processavam
as negociações entre patrões e operários, condenando a “forte repressão
policial contra operários”, ocorrida em São José dos Campos e em outros pontos do país. Noticiou a “gigantesca passeata com mais de cinco mil pessoas”,
realizada em Salvador, em 15 de março, no Dia Nacional de Luto — assim
declarado em protesto contra a posse do general Figueiredo, na presidência da
República, e de Antônio Carlos Magalhães, no governo do estado. Em consonância
com a população, defendeu a “anistia ampla, geral e irrestrita”, para as
milhares de vítimas do autoritarismo. Contudo, foi no campo social que A Tarde ganhou reconhecimento nacional. A campanha “Adote uma
criança”, em 1976, com o slogan “Você não precisa esperar nove meses para ter um filho, adote
um”, foi escolhida em 1981 por jornalistas do Rio de Janeiro e São Paulo como a
melhor campanha comunitária da década.
No
início dos anos 1980, A
Tarde condenou os atos de
terrorismo da extrema direita descontente com os avanços na abertura política.
O editorial “Barra Pesada”, de 5 de maio de 1981, referente à bomba explodida
no Riocentro dias antes, conquanto eximisse o Exército de qualquer envolvimento
na tentativa de atentado, perguntava, em relação ao papel do sargento morto e
do capitão ferido no local da explosão: “Vítimas ou autores?”. Referendou
afirmação do ministro da Justiça, no sentido de que a bomba havia explodido
dentro do governo. Contudo, a onda crescente de atentados em vários pontos do
país levou o jornal a enfatizar a necessidade de apoiar-se o presidente
Figueiredo, a fim de que o processo democrático chegasse a bom termo. A sua tradição,
que tendia para a preservação do status
quo, desde que a ordem social
não fosse perturbada, não o permitiria ir além do previsível.
Nas
eleições de 15 de novembro de 1982, o matutino baiano apoiou o candidato da
oposição, Roberto Santos, para governador da Bahia, que concorreu com o
deputado federal João Durval Carneiro, lançado pelo então governador Antônio
Carlos Magalhães, para substituir Cleriston Andrade, que havia falecido num
desastre de helicóptero. Às vésperas da eleição, publicou página inteira contra
o governador, revelando como ele havia manipulado antigos correligionários e
amigos (Roberto Santos, Juraci Magalhães, Joaci Góis, Lomanto Júnior) para a
sua escalada política. Também contra o governador, que havia sido nomeado pelo
regime militar, o editorial “Conseqüência das eleições” salientava o entusiasmo
com que o eleitorado havia comparecido às urnas, ressaltando que “agora, os
governantes serão autênticos representantes dos povos dos seus estados”. No
entanto, a soma dos votos deu a vitória a João Durval, até então um nome sem
maior expressão política. Eleito governador (1983-87), obteve o apoio de A
Tarde.
Com o editorial “Brinde ao futuro”, em dezembro de 1984,
saudou o fechamento do “ciclo revolucionário”, ao tempo em que justificava o
golpe militar de 1964, “no momento em que o país estava praticamente à deriva,
sob um governo absolutamente inepto”.
Nova
República
Embora
a campanha das Diretas Já tenha sacudido o país,
A Tarde não se integrou a ela.
Defendia a candidatura do ministro do Interior, Mário Andreazza, e considerava
que a eleição indireta, através de um colégio eleitoral, ainda era legal e
terminaria por prevalecer. Mas com a vitória de Paulo Maluf sobre Andreazza, em
janeiro de 1985, na convenção do PDS que escolheu o seu candidato à
presidência, A
Tarde tendeu para Tancredo
Neves. Em torno de Tancredo se aglutinavam as esperanças do povo brasileiro de
obter melhores condições de vida e de justiça social, conforme prometia o plano
de emergência por ele apresentado.
Um
conglomerado de partidos, a Aliança Democrática, elegeu Tancredo Neves e José
Sarney por 480 votos, contra 180 conferidos ao candidato oficial. O editorial
“Ponto final”, publicado após as eleições, proclamou o encerramento de um longo
ciclo de governos discricionários, afirmando que “ a sociedade começa a
aprender a andar com suas próprias pernas, rejeitando o Estado paternalista
autoritário”.
Esta
afirmação não deve ser interpretada como uma mudança na postura conservadora do
jornal. Pouco depois, o editorial “Repúdio ao socialismo” (13/5/1985) aplaudiu
a “espetacular vitória dos partidos de centro-direita”, no primeiro turno da
eleição cantonal francesa, contra o Partido Socialista de François Mitterrand.
No dia seguinte, o editorial “Vai começar o concerto” elogiou a heterogeneidade
do ministério Tancredo Neves, que reunia membros dos partidos de oposição e de
governo. Três ministérios haviam sido confiados a baianos: o das Comunicações,
a Antônio Carlos Magalhães; o da Saúde, a Carlos Santana; e o da Previdência Social, a Valdir Pires.
No decorrer da inesperada enfermidade que acometeu o
presidente Tancredo Neves, elogiou o governo interino do vice Sarney, embora no
editorial “Novos tempos, velhas fórmulas” criticasse a política salarial da
Nova República, remetendo-a à prática política da República Velha. Com ênfase,
refutou o argumento do governo, no sentido de que a recomposição do poder de
compra dos salários acarretaria aumento da inflação.
No dia 22 de abril de 1985, com uma tarja preta e um grande
retrato de Tancredo Neves, encimado pela manchete Morre Tancredo, o jornal registrou a grande comoção que se abateu sobre o
país, com a perda de “um símbolo que reativou a nacionalidade e reavivou a
esperança do povo, que com ele vibrou em praça pública”.
O
editorial “Agora o cruzado” apoiou o Plano Cruzado do governo Sarney,
qualificando-o de “corajoso e inovador em relação aos instrumentos de combate à
inflação”. Lembrou também outras medidas necessárias, “para as quais não são
necessários decretos”, entre elas o “combate à corrupção, que reina
institucionalizada no país”, à especulação, “à gritante evasão de dinheiro do
país”, à sonegação de impostos etc.
Nas eleições de 15 de novembro de 1986, embora A Tarde tivesse apoiado para o governo da Bahia o candidato oficial,
ex-senador Josafá Marinho, não hostilizou o candidato da oposição, ex-ministro
Valdir Pires, no que deixava transparecer divergências políticas no seio da sua
diretoria. Contudo, o matutino baiano deu mais destaque à campanha do primeiro,
apoiado pela Aliança Democrática Progressista, que reunia partidos governistas
e contava com o apoio declarado do ministro das Comunicações, Antônio Carlos
Magalhães. Valdir Pires foi candidato da coligação “Para mudar a Bahia”, que
aglomerava partidos de oposição e grupos conservadores como o de Luís Viana
Filho, Jutaí Magalhães e Prisco Viana, contrários a Antônio Carlos. Valdir
venceu as eleições com 59,4% dos votos, contra 26,9% conferidos a Josafá; na
capital, o candidato vencedor obteve 76% dos votos, contra 13% dados ao seu
oponente.
Em
relação ao governo Fernando Collor de Melo, A
Tarde apoiou, a princípio, suas
drásticas medidas econômico-financeiras e conclamou os governadores a apoiar o
presidente, a fim de garantir-lhe condições de governabilidade. No editorial
“De Jânio a Collor” (15/3/1990) analisou o período de 30 anos que separava os
dois presidentes eleitos pelo povo e considerou que “com a posse de Collor,
reata-se a linha de partida da Revolução de 1964”, isto é, a moralização do governo, retomando-se “suas metas principais: o combate à inflação, à
miséria, à corrupção”. Aplaudiu o enxugamento da máquina administrativa, mas
criticou a criação do Ministério da Reforma Agrária (8/1/1991).
Coerente, aplaudiu, no início do terceiro governo Antônio
Carlos Magalhães (1991-1994), a extinção da Secretaria da Irrigação e Reforma
Agrária, criada no governo Valdir Pires. Disse que essa secretaria “não
conseguiu irrigar sequer uma horta e assentar o lavrador sem terra” (8/1/1991).
Não deixou contudo de, logo após, publicar artigo do ex-secretário da Reforma
Agrária, Euclides Neto, denunciando a oposição das classes privilegiadas à
existência de uma secretaria de reforma agrária, por “ameaçar os privilégios
dos que avançaram sobre as terras que deveriam ser de todos os que as exploram
efetivamente”.
No mesmo diapasão do governador, A Tarde condicionou o apoio ao governo Collor à ajuda que este
prestasse ao governo da Bahia. Por ocasião de severa seca que mais uma vez
devastou parte considerável do Nordeste brasileiro, comparou, através de vários
editoriais (entre os quais “O socorro” e “A esmola de sempre”), as providências
tomadas pelo governo federal àquelas do tempo de Pedro II, que se resumiam em
“discursos e distribuição de pacotes de alimentos”. Criticou o presidente que
“em fins de milênio, põe-se em mangas de camisa, com postura de cacique
provinciano, a distribuir saquinhos de fubá e farinha para os flagelados”,
procurando aplacar a seca com caminhões-pipa. Condenou a persistência secular
da indústria da seca, dizendo ser preciso, do ponto de vista político,
“enfrentar interesses consolidados”.
Criticou
a reforma ministerial levada a efeito após a saída da ministra Zélia Cardoso de
Melo (10/5/1991), considerando que a inclusão de respeitáveis figuras no novo
ministério “não mudou a base moral do governo”. No entanto, continuou a apoiar
o presidente que “sem vínculo de amizades, passa a governar com tranqüilidade,
com firmeza, com a cabeça e não com o coração, preocupando-se com a sorte de
amigos”. Mas no editorial “As compensações e a República do Acarajé”
(23/4/1991) comentou o descontentamento dos governadores do Nordeste com o fato
do presidente haver dispensado ao governo do Rio de Janeiro um tratamento
privilegiado (a transferência para a União da dívida de dois bilhões de dólares
do metrô carioca), ao tempo em que condenava a “pregação de colonialismo
interno por políticos do Centro-Sul” (repudiando crítica de um jornal paulista
que, condenando a influência de Antônio Carlos Magalhães, havia apelidado o governo
de “República do Acarajé”). Embora o apoio ao presidente Collor fosse se
arrefecendo, à medida que cresciam as denúncias de corrupção e o
descontentamento popular, A
Tarde, em consonância com o
governador, não fez coro com a população do Brasil que pedia o impeachment
do presidente. Mas também não defendeu a sua permanência à frente do país. No
editorial “A terceira renúncia” (Deodoro da Fonseca, Jânio Quadros e Collor),
registrou a frustração que a renúncia do presidente Collor causou ao povo brasileiro
e conferiu destaque a pronunciamento de Itamar Franco, que assumia a
presidência, anunciando um “governo marcadamente social”.
Às
vezes de modo contundente, A
Tarde tem-se manifestado contra
o processo de globalização da economia e contra a política neoliberal que vem
sendo desenvolvida pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso,
condenando suas nefastas conseqüências para o bem-estar da população. Neste
contexto, tem criticado a maneira como vem sendo conduzido o processo de
privatização, “bancada por dinheiro público”; a crescente onda de desemprego e
de violência, bem como a falta de ética com que vem sendo conduzida a reforma
administrativa, “sacrificando os barnabés e privilegiando a classe política”.
Condenou a relutância do governo em investir maiores esforços e recursos no
sistema educacional, nos problemas de saúde e em uma “reforma agrária de maior
alcance”. Fez coro com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
quando esta acusou o governo e o Congresso de corrupção, na tramitação das
reformas em curso, e condenou o seu pouco interesse em resolver a questão
agrária. Com o editorial “A marcha dos sem terra” (17/4/1997) apoiou o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a mobilização das demais
categorias de trabalhadores que marcharam até Brasília. “Entre foices e
enxadas”, disse o jornal, o MST estaria enfeixando as reivindicações do campo e
da cidade. Com detalhes, A
Tarde tem noticiado as invasões
e saques realizados pelos sem terra, condenando a inoperância do governo nesta
área e o uso da força policial para reprimir esses movimentos.
Outros editoriais, como “Estado negligente” (12/5/1997) e
“Estado nulo” (30/7/1997), por exemplo, criticaram a incúria administrativa do
governo, sugerindo-lhe que reveja o “neoliberalismo tupiniquim”, em curso. Em “Os males da prepotência” (30/5/1998), A Tarde criticou a intransigência do ministro da Educação, Paulo
Renato Sousa, e a sua ação arbitrária de suspender o pagamento dos professores
e funcionários das universidades federais, em greve há cerca de dois meses. O
artigo “Ambição de poder” acusou o presidente Fernando Henrique Cardoso de
perjúrio, por não realizar as cinco metas prometidas, e condenou a sua ambição,
não duvidando que fosse reeleito; “por ser honesto”, ponderou, não gastaria
dinheiro do erário na sua campanha, mas “bastará fazer correr a cuia pelo
empresariado, que ela se encherá em minutos”.
No
que diz respeito à sucessão estadual,A
Tarde apoiava o candidato
oficial, que também conquistara a oposição, deputado federal Luís Eduardo
Magalhães. A sua morte inesperada causou grande comoção no país e, com a
manchete “Sepultada uma esperança”, A
Tarde dedicou ao jovem líder
político as 20 páginas do primeiro caderno do dia 23 de abril de 1998.
Atualmente, o jornal tem uma tiragem de 70 mil exemplares por
dia, chegando aos domingos a 130 mil. Nos dias úteis, incluindo-se os
suplementos, A Tarde tem uma média de 62 páginas e, aos domingos, 120. Ainda
hoje, muitos baianos são despertados pelo grito de meninos-jornaleiros que se
espalham pela capital e, seguindo a tradição, comandam: “Leia A Tarde.” No dia 23 de abril de 1998 lançou, na sua sede, A Tarde Online, um possante provedor de acesso à Internet, que lhe assegura
independência tecnológica e operacional como veículo de comunicação de massa.
Consuelo Novais Sampaio
colaboração especial
FONTES: CALMON, J. Campanhas; ENTREV. RIOS, C.;
SAMPAIO, C. Crisis; SAMPAIO, C. Partidos; Tarde (1912-1998).