UNIÃO SOCIALISTA POPULAR
UNIÃO
SOCIALISTA POPULAR
Organização política de forças de esquerda criada em abril de
1945, nos momentos finais do Estado Novo. Era integrada pelos trotskistas da
Liga Comunista Internacionalista (LCI) — grupo predominante —, por dissidentes
do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que não concordavam com a política de
aproximação do partido com Getúlio Vargas, e por socialistas independentes. Seu
objetivo era criar condições para a formação de um grande partido socialista —
o Partido Socialista Popular ou o Partido Socialista do Brasil — após a
publicação do Código Eleitoral, e seu fim imediato era “propugnar... pelas
reivindicações fundamentais do homem e das suas liberdades”. Foi extinta em
dezembro de 1945, depois das eleições legislativas e para a presidência da
República, sem lograr contudo constituir-se como partido político.
O principal articulador da União Socialista Popular (USP) foi
Martins Gomide, membro da LCI e ex-presidente do diretório acadêmico da
Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Além de Gomide, participavam da
comissão organizadora do movimento João Batista de Azevedo Lima, que fora
deputado pelo Bloco Operário-Camponês (BOC) no final da década de 1920, Mário
Pedrosa, Edmundo Muniz, Otaviano Du Pin Galvão, Hugo Baldessarini todos
trotskistas —, e os independentes Evaristo de Morais Filho, Carmem Portinho e
J. G. de Araújo Jorge, entre outros.
O manifesto-programa da União Socialista, lançado em meados
de abril, defendia 25 pontos, entre os quais se destacavam os seguintes: a
instalação de um governo provisório para proceder à eleição da Assembléia
Constituinte, eleita por voto direto e secreto por todos os cidadãos maiores de
18 anos, inclusive os analfabetos e os estrangeiros residentes no país há mais
de dez anos; a revogação imediata da Constituição de 1937 e de todas as leis
constitucionais do Estado Novo; a revogação das leis reguladoras dos
sindicatos, da Lei de Segurança Nacional e da Lei de Imprensa; a anistia ampla
e imediata para todos os crimes políticos; o reconhecimento do direito de
greve; a dissolução da polícia política e dos escritórios do Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP) em todo o país; a participação dos trabalhadores
nos lucros das empresas; o divórcio; a nacionalização e a distribuição das
terras; o aumento de 30% em todos os salários, com a adoção de uma escala móvel
conforme a elevação do custo de vida, e, finalmente, salário igual para
trabalho igual, independente de idade e sexo.
Além dos nomes já citados, assinaram o documento Sigerando
Gomes, Normance Muniz, Almir de Matos Peixoto, Luís Washington Barbosa Rodrigues,
Sebastião Isaías, João Austregésilo de Ataíde, David Wilman e Wilson Rodrigues,
entre outros.
A USP surgiu aproximadamente na mesma época em que foi
fundada a Esquerda Democrática, organização política que em 1947 se
transformaria no Partido Socialista Brasileiro (PSB). De início, ambas as
organizações situavam-se bastante próximas da União Democrática Nacional (UDN)
— fundada também em abril de 1945 — no tocante à defesa das liberdades
democráticas e à derrubada de todos os vestígios da ditadura varguista. No
momento de sua fundação, a UDN era um conjunto de forças heterogêneas que
abrangia desde políticos remanescentes da República Velha até intelectuais
liberais e jovens universitários antifascistas, e que admitia a presença em
suas fileiras de elementos de esquerda.
Devido
à sua pouca expressão eleitoral, que não lhes possibilitava apresentar
candidatos por legenda própria, tanto a União Socialista quanto a Esquerda
Democrática concorreram às eleições de dezembro de 1945 sob a legenda udenista.
A USP lançou sem êxito Edmundo Muniz para disputar uma cadeira na Câmara de
Vereadores do Distrito Federal. Já a Esquerda Democrática teve melhor sorte,
com a eleição de Hermes Lima para a Câmara dos Deputados pelo Distrito
Federal. As duas organizações apoiaram a candidatura de Eduardo Gomes, da UDN,
à presidência da República.
Apesar de contarem com uma série de pontos comuns em seus
programas, a USP e a Esquerda Democrática mantiveram-se afastadas. A Esquerda
Democrática acusava a União Socialista de radicalismo, o que seria determinado
pelo predomínio dos trotskistas. Esse mesmo radicalismo teria provocado o
afastamento de independentes como Evaristo de Morais Filho. Por sua vez, a USP
considerava a Esquerda Democrática moderada, com traços socialdemocratas.
FONTES: Diário
Carioca (18/4/45); ENTREV. MUNIZ, E.