VANGUARDA
POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR)
Organização político-militar criada em 1968 por dissidentes
da Política Operária (Polop) e ex-integrantes do Movimento Nacionalista
Revolucionário (MNR), em sua maioria estudantes e ex-militares. Seu objetivo
era lutar contra o regime militar instalado no Brasil em abril de 1964, após a
derrubada do governo constitucional de João Goulart. Seu principal líder foi o
capitão Carlos Lamarca.
A
VPR se organizou a partir do desmantelamento da chamada Guerrilha de Caparaó,
conduzida pelo MNR, e como resultado do trabalho desenvolvido junto aos
sindicatos operários paulistas durante a greve dos metalúrgicos de Osasco em
1968. Além do trabalho sindical, a VPR desenvolveu ações militares, sendo que
uma das mais espetaculares foi aquela em que o capitão do Exército Carlos
Lamarca, em janeiro de 1969, passou para a clandestinidade levando 63 fuzis FAL
e dez metralhadoras Ina e munição do quartel do 4º Regimento de Infantaria, em
Quitaúna, São Paulo.
Os
militantes da VPR formalmente se organizavam em células de três elementos que
não tinham comunicação umas com as outras. De cada célula saía um membro para
um escalão superior, também integrado por três pessoas. Essa célula de nível
superior destacava um elemento para integrar uma outra de nível mais alto,
também composta de três elementos. Esse tipo de organização na prática nem
sempre se apresentava dessa forma. A VPR, como todas as organizações
guerrilheiras, se reunia em apartamentos e casas de bairros de classes alta e
média, ludibriando assim as buscas da polícia.
A organização sofreu crises internas determinadas pela
discordância quanto à orientação dada pelo setor militar da VPR. Este setor
considerava as ações armadas como o principal método de luta, já que via como
fundamental, na organização política das massas, os grupos de vanguarda. O
setor intelectual era defensor de um trabalho inicial de conscientização lenta
e gradual das massas e contrário à visão vanguardista. As divergências internas
determinaram a fusão, em 1969, da VPR com o Comando de Libertação Nacional
(Colina), quando o movimento passou a se denominar Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares
(VAR-Palmares).
Nessa
segunda fase a organização destacou-se por suas ações armadas, como assaltos a
bancos para a obtenção de recursos financeiros e participação no seqüestro do
embaixador alemão Ehrenfried von Hollenben. O seqüestro foi realizado em junho
de 1970 numa ação conjunta com a Ação de Libertação Nacional (ALN) e o
embaixador teve sua libertação trocada pela soltura de 40 presos políticos.
Ainda em outubro de 1969 a VPR iniciara o treinamento de
grupos de guerrilheiros no vale da Ribeira, em São Paulo, sob a liderança do
capitão Lamarca. Em março de 1970 foram presos alguns dirigentes paulistas da
organização, o que levou a polícia a localizar e desmantelar o grupo
guerrilheiro da Ribeira.
Ao
mesmo tempo em que aumentava a ação dos grupos de guerrilha, aperfeiçoava-se e
intensificava-se a repressão policial-militar que, a partir de 1970, foi
liquidando todos os grupos de ação armada. Por outro lado, o enfraquecimento
desses grupos facilitou a infiltração de agentes policiais entre as
organizações revolucionárias. Segundo o jornal Em Tempo, a VPR sofreu a ação de
agentes como José Anselmo dos Santos, o “cabo” Anselmo, figura que se projetara
no período imediatamente anterior ao movimento militar de março de 1964 como
presidente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais. O “cabo” Anselmo
liderou a rebelião dos marinheiros de 25 de março de 1964, foi preso após o
movimento militar de março de 1964 e algum tempo depois de sua fuga da prisão
viajou para Cuba, para participar da reunião da Organização Latino-Americana de
Solidariedade (OLAS) realizada em agosto de 1967. Durante essa reunião, na qual
foi aprovado o desencadeamento da luta armada nos países da América Latina, o
“cabo” Anselmo se apresentou como representante do MNR. Ele permaneceu em Cuba
para receber treinamento de guerrilha e aí se ligou a Aluísio Palhano, ao
ex-sargento Onofre Pinto (um dos dirigentes do MNR), a Edson Quaresma e Evaldo
Luís Ferreira de Sousa. Todo esse grupo voltou ao Brasil em 1970 para integrar
a VPR. Alguns meses depois, Anselmo assumiu a direção regional da VPR em São
Paulo. O jornal Em Tempo atribui à ação de Anselmo a responsabilidade pela
prisão e morte de mais de 20 militantes da VPR. Foi nesse momento que os
guerrilheiros começaram a desconfiar da posição de Anselmo. Também foi acusado
de ter-se passado para o lado dos órgãos de segurança o ex-sargento Onofre
Pinto.
Em
1971 o capitão Lamarca rompeu com a VPR, pois passara a negar a teoria do
“foco” revolucionário, aderindo à concepção de guerra popular prolongada, o que
o levou a se aproximar a partir de março do Movimento Revolucionário 8 de
outubro (MR-8). O afastamento de Lamarca da VPR se ligava também às críticas
que vinha sofrendo dentro da organização, que o acusava de “personalista”, atitude
não condizente com a de um militante guerrilheiro.
Em 18 de setembro de 1971 o capitão Lamarca foi morto pela
polícia no município de Ipupiara, na Bahia.
Durante
o ano de 1972 a VPR atuou sob o comando do “cabo” Anselmo, que fora designado
para Recife a fim de organizar um foco guerrilheiro. Nessa ocasião já eram
grandes as suspeitas, entre os integrantes do grupo, de que Anselmo era um
agente policial. Foram enviadas do Chile, onde se encontrava um grupo de
exilados, informações sobre a situação de Anselmo. Logo em seguida
desencadeou-se severa repressão sobre o grupo de Recife, sendo que seis
elementos foram mortos e, segundo a polícia, apenas um escapou. O levantamento
de informações feito pelo jornalista Marco Aurélio Borba sobre o “cabo” Anselmo
indica que ele foi o único sobrevivente desse grupo de Recife.
A VPR praticamente desapareceu após 1973.
Alzira Alves de Abreu
FONTES: BORBA, M.
Cabo; Em Tempo (16 a 22/8/79); Veja (22/9/71).