VOZ
DA UNIDADE
Semanário
do Partido Comunista Brasileiro (PCB), fundado em março de 1980 e editado em
São Paulo, com sucursais em diversas capitais.
A Voz
da Unidade foi criada como herdeira de outros periódicos comunistas
publicados no Brasil desde a fundação do PCB. Especialmente nos períodos em que
o partido teve vida legal (como entre 1945 e 1947) ou em que, mesmo na
ilegalidade, houve maior tolerância para com as atividades comunistas, foram
publicados semanários e jornais diários, seguindo as orientações do PCB, em
diversas capitais brasileiras. Foi o caso de A Classe Operária,
publicado no Rio em 1946 e 1947, e de A Voz Operária, órgão oficial do
partido entre 1949 e 1959, quando foi substituído pelo semanário Novos Rumos,
publicado até o movimento político-militar de 1964. Na clandestinidade durante
o regime militar, o PCB voltou a usar o título Voz Operária para seu
jornal, que circulou em intervalos mensais entre 1964 e dezembro de 1974.
Tornou a ser editado em 1976, a partir do exterior. Com a anistia política,
concedida por lei aprovada no Congresso em 22/8/1979, que beneficiou opositores
do regime militar, o partido suspendeu a publicação do jornal em setembro de
1979, preparando-se para a edição de um semanário em novos moldes.
Mesmo no tempo em que o PCB estava na ilegalidade, a Voz
da Unidade foi claramente identificada como o órgão oficial do partido. No
primeiro número, de 30 de março de 1980, definiu-se em editorial como um jornal
que “surge para ser expressão e veículo de uma corrente de pensamento cuja
linha de ação está orientada para ajudar a classe operária e a todas as forças
democráticas do país”.
Os
debates internos do partido, como quando da ocasião do afastamento do seu
secretário-geral Luís Carlos Prestes, em abril de 1980, também se refletiram
nas páginas do jornal, embora maior destaque fosse dado sempre, como era de se
esperar em um órgão oficial, à linha política traçada pela direção nacional do
PCB.
Na década de 1980, a Voz da Unidade refletiu as
oscilações na conjuntura política em relação ao PCB. Após o episódio do
Riocentro — explosão de uma bomba por grupos militares de extrema direita
durante um show em comemoração ao Dia do Trabalhador, com o objetivo de
prejudicar a continuidade do processo de abertura política —, a Voz da
Unidade cobriu todo o processo de apuração do caso, proclamando o apoio dos
comunistas ao governo nas investigações tidas como fundamentais para o processo
de abertura democrática. Mais tarde, quando do arquivamento do processo, o
jornal acusou o presidente João Batista Figueiredo de ter recuado em sua
promessa de apuração do atentado.
Em dezembro de 1982, a tentativa de realizar o VII Congresso
do partido no auditório da Editora Novos Rumos, que editava o jornal, foi
reprimida por agentes da Polícia Federal, que prenderam 67 pessoas, mais tarde
processadas pela Lei de Segurança Nacional. Na ocasião, a redação do jornal
também foi invadida e seus arquivos foram apreendidos.
Em
1983, Giocondo Dias, então secretário-geral do PCB, lançou em Brasília a
campanha nacional pela legalização do partido e a Voz da Unidade, com o
lema “A luta pela legalidade do PCB é a luta pela democracia”, passou a ser o
porta-voz do movimento, publicando manifestos e apoios políticos à campanha. Em
fins daquele ano, a Voz da Unidade integrou-se à campanha da Diretas Já,
mas manteve a defesa das prioridades do PCB, como “a livre organização
partidária e a instauração da Assembléia Nacional Constituinte livre e
soberana”. No ano seguinte, após a derrota no Congresso da emenda
constitucional que restaurava as eleições diretas para a presidência da
República, a Voz da Unidade passou a defender o nome de Tancredo Neves, do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), como candidato único dos
democratas. Assim, apoiou no Colégio Eleitoral a chapa Tancredo Neves-José
Sarney, da chamada Aliança Democrática, que reuniu o PMDB e dissidentes da
Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido do governo, agrupados na Frente
Liberal.
Em
maio de 1985, após o fim do regime militar, o PCB foi finalmente legalizado. A
legalização do partido se refletiu na apresentação formal do jornal que, em
1986, incorporou a foice e o martelo ao seu logotipo e, em 1988, passou a
apresentar, abaixo do título, a legenda “Órgão Central do Partido Comunista
Brasileiro”.
Os
primeiros passos da chamada Nova República foram enaltecidos pelo jornal, e a
proposta do Executivo, apresentada ao Legislativo em outubro de 1985, de
conferir poderes constituintes aos parlamentares eleitos no pleito de novembro
de 1986 foi apoiada, embora com ressalvas, em artigos do jornal. O apoio ao
governo Sarney foi mantido durante o Plano Cruzado — reforma econômica
implantada em 28 de fevereiro de 1986. A Voz da Unidade considerou o
plano positivo, por abrir para a sociedade “a possibilidade de que se adotassem
novas medidas que construíssem as bases de um novo modelo de desenvolvimento.”
Durante
a Constituinte, o jornal foi porta-voz das posições do partido e da atuação da
pequena bancada do PCB. Em novembro de 1987, por exemplo, deu grande destaque à
emenda apresentada por Fernando Santana (PCB-BA), que nacionalizava a
distribuição de derivados de petróleo. No mês seguinte, com a manchete “Direita
joga bruto na Constituinte”, a Voz da Unidade denunciava a articulação
do Centrão, bloco de constituintes conservadores que se articularam para
combater propostas progressistas acolhidas pela Comissão de Sistematização na
primeira fase da elaboração da Carta. Em março e em junho de 1988, o jornal anunciou
a derrota das propostas defendidas pelo partido quanto ao regime de governo (os
constituintes do PCB votaram pelo parlamentarismo) e quanto ao mandato do
presidente José Sarney (os comunistas defendiam quatro anos, contra os cinco
aprovados), com manchetes do tipo “Sarney leva na mão dura” e “Ok, você
venceu”. Logo após a aprovação da nova Constituição, em outubro de 1988, o
jornal passou a veicular o apoio do PCB à proposta de um pacto social com
objetivos antiinflacionários.
Em 1989, o jornal assumiu o papel de porta-voz da candidatura
de Roberto Freire à presidência da República, pelo PCB, circulando semanalmente
com um encarte especial da campanha.
Em suas páginas, a Voz da Unidade publicava colunas de
política, economia, cultura, educação, sindicalismo, noticiário nacional e
internacional, questão feminina e esportes. Seu primeiro diretor responsável
foi Henrique Cordeiro, que exerceria o cargo até 1983, sendo o Conselho
Editorial da época formado por Armênio Guedes, Lindolfo Silva, Teodoro Melo e
Gildo Marçal Brandão. João Avelino assumiu a direção do jornal a partir de maio
de 1983, sendo sucedido no cargo por Luís Carlos Azedo, a partir de outubro de
1987.
Em janeiro de 1992, no contexto das transformações no Leste
Europeu deu-se o fim do PCB — que decidiu em congresso pela sua autodissolução
e pela criação do Partido Popular Socialista (PPS). O jornal, que nos anos
anteriores dava espaço às discussões sobre a chamada perestroika e defendia
mudanças no partido, deixou de ser editado em 1991.
FONTES: CHINEM, R. Imprensa
alternativa; FERREIRA, M. Imprensa operária; FREDERICO, C. Esquerda;
KUCINSKI, B. Jornalistas e revolucionários; PANDOLFI, D. Camaradas e
companheiros; Voz da Unidade (1980-1991).