Entrevista: 15.04.2004
FITA 1-A
Origem familiar; a infância no Rio de Janeiro e, posteriormente, no interior de São Paulo e na capital paulista, acompanhando a mãe, empregada doméstica; lembranças do convívio com a família Giffone; contato com costumes japoneses e árabes no bairro Liberdade, em São Paulo; a segregação racial no Rio Grande do Sul, vivenciada quando visitava a família da mãe, em Porto Alegre, durante a juventude; observação da existência de segregação em outros estados do Brasil e relativização da diferença entre o racismo no Brasil e nos Estados Unidos; a experiência como aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena (MG) (1964-1968), e seu afastamento da escola por suspeita de comunismo; comentários sobre a presença de negros como oficiais das forças armadas; o grupo de leitura organizado por alguns alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar; acidente de avião sofrido durante a formação na escola de cadetes do ar; o processo de desligamento da escola, em 1968.
FITA 1-B
O desligamento da Escola Preparatória de Cadetes de Ar (continuação); a preparação para o vestibular para comunicação, em 1969; lembranças dos padrinhos, com quem morou no Rio de Janeiro; o trabalho como revisor no Jornal do Brasil, paralelo à faculdade de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro; a compra de exemplar da revista norte-americana Ebony, como parte do processo de afirmação da negritude, e a adoção do cabelo afro, em 1969, no Rio de Janeiro; descrição dos bailes soul no Clube Renascença, animados por Asfilófio de Oliveira Filho, o Filó; a crítica ao movimento cultural Black Rio por parte de intelectuais de esquerda e de direita; defesa do soul enquanto manifestação cultural: a afirmação da negritude, a influência sobre outras formas musicais e a diferença em relação ao samba; a identificação do entrevistado como especialista de soul e black music; lembrança de congresso afro-brasileiro realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, no início da década de 1970, sem a participação de negros brasileiros; a participação nas reuniões do Centro de Estudos Afro-Asiáticos (CEAA) da Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, a partir de 1974; as formas de apropriação, pelo movimento negro no Brasil, das experiências dos negros norte-americanos e africanos, nos anos 1970; referência à criação, no Rio de Janeiro, da Sociedade de Intercâmbio Brasil-África (Sinba), em 1974, e do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN), em 1975.
FITA 2-A
A fundação do IPCN (1975) (continuação): participação de artistas negros, de membros da Sinba e de participantes das reuniões do CEAA; breve comentário sobre a utilização de artistas brancos em papel de negros, como no caso da novela Gabriela, veiculada pela TV Globo na década de 1980; participação de membros do IPCN na fundação da Escola de Samba Quilombo; o audiovisual Passado africano, produzido pelo entrevistado e pelo IPCN, como estratégia de discussão da questão racial, em 1975; o trabalho com Filó na empresa de vídeo Cor da Pele, na década de 1980; o convite feito por Abdias do Nascimento para trabalhar na Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção da População Negra (Sedepron), no estado do Rio de Janeiro, em 1991; o processo de compra da sede do IPCN, com financiamento da Interamerican Foundation, na década de 1970; recordações da comemoração do primeiro aniversário do IPCN, na cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1976); menção ao ato público contra o racismo, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, ocorrido em julho de 1978; análise da relação entre o movimento negro e os órgãos de repressão do regime militar; a atuação de tropas do Exército durante a "Marcha contra a farsa da abolição", realizada em 11 de maio de 1988, na Candelária, no Centro do Rio de Janeiro, para evitar que os manifestantes chegassem à estátua de Duque de Caxias; a defesa da ação afirmativa a partir do início da década de 1990: organização de seminário na prefeitura de São Paulo, junto com Hédio Silva Júnior, em 1992.
FITA 2-B
As diferentes identidades raciais atribuídas ao entrevistado em diferentes contextos, e considerações sobre a "arbitrariedade do signo racial"; breve menção ao conceito de "modernidade líquida" de Zigmund Baumann; as origens da idéia de ação afirmativa no movimento negro contemporâneo no Brasil; ocasiões em que o entrevistado foi aos Estados Unidos, a partir de 1991; iniciativas de empreendimentos de empresários negros brasileiros e norte-americanos desenvolvidas no Brasil à época da entrevista; razões pelas quais negros norte-americanos gostam de vir ao Brasil, à época da entrevista, e razões pelas quais o entrevistado também gosta de estar nos Estados Unidos; respostas às críticas contra a ação afirmativa, especialmente contra as cotas para negros nas universidades; avaliação dos resultados das políticas de ação afirmativa nos Estados Unidos.
FITA 3-A
Respostas às críticas contra a ação afirmativa, especialmente contra as cotas para negros nas universidades (continuação); o desempenho dos alunos cotistas no primeiro semestre de 2003, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); considerações sobre os critérios utilizados na diferenciação racial entre negros e brancos; análise da relação entre o movimento negro e instâncias do poder público, ao longo das últimas décadas; a experiência de trabalho na Sedepron, no estado do Rio de Janeiro, no início dos anos 1990; exemplos de medidas de ação afirmativa implementadas pelo Estado nos Estados Unidos; crítica a propostas de políticas voltadas para os pobres, como forma de atingir os negros; a experiência como assessor do ministro Extraordinário dos Esportes na gestão de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, de 1995 a 1996; menção à participação no Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra, criado pelo governo federal em 1995; a informação, obtida no kardecismo, de que o entrevistado tem uma missão relacionada à questão racial; o trabalho como assessor do senador Abdias do Nascimento, entre 1997 e 1999.
FITA 3-B
Atuação como assessor de Abdias do Nascimento no Senado (continuação); o mestrado em sociologia e direito na Universidade Federal Fluminense, a partir de 2001; relato de fiscalização feita em shopping do Rio de Janeiro pelo movimento negro, levantando o número de lojas que empregavam funcionários negros; a III Conferência Mundial contra o Racismo, realizada em Durban, África do Sul, em setembro de 2001: convite para integrar a delegação brasileira, elaboração do vídeo O Brasil em Durban e os efeitos da Conferência no Brasil; descrição de como o governador Anthony Garotinho sancionou, em novembro de 2001, a Lei nº 3.708, aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), instituindo cotas para negros no acesso às universidades públicas estaduais; discussão sobre a pouca diferença que existe entre os pontos de vista da direita e da esquerda em relação ao movimento negro; a importância da Lei nº 10.639, sancionada em janeiro de 2003, tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio; balanço da trajetória do movimento negro: a ação afirmativa como bandeira comum, o respeito mútuo entre os militantes como sinal de maturidade e a distância do entusiasmo dos anos 1970; recordações das reuniões do IPCN no prédio do Instituto Cultural Brasil-Alemanha, no Centro do Rio, na década de 1970.