1ª Entrevista: 1/12/2003
Fita 1-A: origens familiares; a busca do pai, que conheceu após 40 anos; possíveis causas do falecimento da mãe em meados da década de 1960; separação da mãe, aos cinco anos, e internação no Serviço de Assistência ao Menor (SAM); a trajetória no SAM e na Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem); importância do professor de música da Funabem, Luís Gonzaga Pires, para a formação do entrevistado; atividades de resistência desenvolvidas na Funabem: criação de jornal (1971) e formação de grêmio.
Fita 1-B: os primeiros empregos, após desligamento da Funabem: professor de música em uma escola e trabalho em uma gráfica; o contato com a política partidária, por influência do professor Luís Gonzaga Pires; causa do falecimento da mãe, em meados da década de 1960; a visita ao padrasto, na ilha Grande, no início dos anos 1970; o contato com iniciativas do movimento negro contemporâneo, no início da década de 1970, no Rio de Janeiro; o processo de fundação da Associação dos Ex-alunos da Funabem (Asseaf), em 1979; o ingresso no curso de educação da Faculdade Notre Dame, em Ipanema, no Rio de Janeiro, em 1979; o trabalho como professor de música da Funabem, em diversas localidades, no Rio de Janeiro; contato com Togo Ioruba no Instituto Padre Severino e engajamento no movimento negro; o estigma que sofrem alunos e ex-alunos da Funabem e a especificidade da atuação do entrevistado no movimento negro decorrente dessa origem; contatos com militantes e instituições do movimento negro; comentário sobre grupos divergentes no Instituto de Cultura e Pesquisas Negras (IPCN), no Rio de Janeiro; lembrança de entrevistas com Beatriz Nascimento e Abdias do Nascimento, que chamaram sua atenção para a questão racial; as dificuldades do movimento negro em incorporar a seu discurso sobre a questão racial a situação dos alunos da Funabem, das prostitutas e de outros marginalizados; a luta contra a violência policial e grupos de extermínio; menção ao "passeato", passeata e ato público que constituiu a primeira manifestação de rua da Asseaf no Rio de Janeiro (1984); a criação do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), em 1989, e a crítica de lideranças do movimento negro ao financiamento dessa entidade por recursos da cooperação internacional; a participação, primeiro, da Asseaf e, depois, do Ceap na organização dos I e II Encontros de Negros Sul-Sudeste e no I Encontro Nacional de Entidades Negras (Enen) (1991); menção à ausência do Movimento Negro Unificado (MNU) do I Enen; os planos do entrevistado para dar continuidade ao projeto do Enen, e sua decisão de se concentrar nas atividades do Ceap; a atuação do Ceap.
Fita 2-A: a qualidade do ensino na Escola Quinze, no Rio de Janeiro, e a caracterização de sua clientela; a participação do entrevistado, via Ceap, no processo de articulação do I Enen, em 1991; o lançamento da campanha de ação afirmativa do Ceap, baseada no símbolo das camélias, em novembro de 2003; mudanças de perspectiva, dentro do movimento negro, a respeito da questão das cotas para negros nas universidades públicas; a inserção da reserva de vagas para negros no relatório oficial que o governo brasileiro levou para a III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, África do Sul, em setembro de 2001; a primeira lei de cotas do Brasil, Lei nº 3.708 aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) em 2001; a defesa de políticas de ação afirmativa como estratégia política do movimento negro; a importância do debate suscitado pela instituição de cotas em universidades públicas; a atuação política do movimento negro, em comparação com a atuação de partidos políticos, especialmente de esquerda; o significado da ação do movimento negro no Brasil à época da entrevista; os efeitos do ingresso de militantes do movimento negro na academia; relato da aproximação com o candomblé; comentário sobre sua origem e a relação com o pai, depois de encontrá-lo; os cinco filhos e dois netos do entrevistado e o aprendizado da convivência em uma casa, com família, em contraste com sua experiênica de crescer em alojamentos.
Fita 2-B: críticas ao discurso da Funabem à época em que era interno; a trajetória individual do entrevistado como típica, na sociedade brasileira; a busca das origens maternas; a realização da "Marcha contra a farsa da abolição", em 11/5/1988, na Candelária, no Centro do Rio de Janeiro: a reação do Exército e a repercussão do evento; os efeitos da "Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, pela cidadania e a vida", realizada em 20/11/1995, em Brasília; o significado da inscrição de Zumbi no livro dos heróis nacionais, em 20/11/1996; a necessidade de envolvimento de toda a sociedade brasileira nas políticas de ação afirmativa; a importância da Lei nº 10.639, sancionada em janeiro de 2003, tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio; a origem da idéia de que o 20 de Novembro fosse o dia nacional da consciência negra; avaliação da trajetória e dos avanços conquistados pelo movimento negro; a importância da ação afirmativa como estratégia do movimento e a repercussão da campanha baseada no símbolo da camélia, lançada pelo Ceap à época da entrevista; opinião sobre a criação da Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em março de 2003; a dificuldade de conciliar a vida familiar com as atividades da militância do movimento negro; o significado da militância no movimento negro para a trajetória pessoal do entrevistado.