GOUTHIER,
Hugo
*diplomata; emb. Bras. Itália 1960-1964.
Hugo Gouthier de Oliveira Gondim nasceu em Belo Horizonte no dia 23 de setembro de 1909,
filho de Francisco Gouthier de Oliveira Gondim e Maria Gouthier de Oliveira
Gondim.
Fez seus estudos secundários em Dores do Indaiá e Pitangui,
no interior de Minas Gerais e estudou depois no Ginásio Mineiro, em Belo Horizonte. Cursou a Faculdade de Direito de Minas Gerais, tendo sido presidente de seu
diretório acadêmico. Formou-se em 1931.
Além de advogado, exerceu também a função de inspetor federal
do ensino secundário. Em julho de 1934 foi nomeado oficial-de-gabinete do
ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema, durante o governo de
Getúlio Vargas (1930-1945). A convite de Dario de Almeida Magalhães, ingressou
nos Diários Associados, tornando-se o elemento de ligação entre a
imprensa e o ministério. Em julho do ano seguinte foi nomeado chefe de seção do
Departamento Nacional de Propaganda do Ministério da Justiça.
Ingressou na carreira diplomática em outubro de 1936, como cônsul
de segunda classe. Sua primeira designação foi para Bruxelas, na Bélgica, onde
permaneceu até janeiro de 1939. Removido para Washington, aí serviu até agosto
de 1944. Transferido para Londres, em janeiro de 1946 foi secretário-geral da
delegação do Brasil à I Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, realizada
na capital inglesa. Ainda em janeiro assumiu o cargo de encarregado de negócios
da embaixada brasileira, por um período de um ano.
Removido
para Paris em junho de 1947, retornou em junho seguinte para Washington, onde
ficou até outubro. Em maio de 1950 foi promovido a ministro de segunda classe.
Dois anos depois, foi designado ministro plenipotenciário em Teerã, no Irã,
assumindo o cargo em maio de 1952. Amigo pessoal do xá do Irã, Rheza Pahlevi, e
de sua família, tornou-se alvo das acusações do primeiro-ministro Muhamad
Mossadegh, que liderou um movimento nacionalista de oposição ao governo.
Segundo o jornal carioca O Globo (21/2/1981), Mossadegh teria tomado
conhecimento de uma carta enviada por Gouthier ao embaixador norte-americano em
Teerã, manifestando seu ponto de vista sobre as relações entre o Irã e a
Inglaterra na questão do petróleo, cuja exploração fora nacionalizada pelo
primeiro-ministro. Com a divulgação da carta, Gouthier foi considerado persona
non grata pelo governo do Irã, respondeu a um processo — tendo como advogado
Dario de Almeida Magalhães — e ainda recebeu uma suspensão de 90 dias pelo
Itamarati. Em novembro de 1952, deixou a embaixada em Teerã, ficando lotado na
secretaria do Itamarati, no Rio de Janeiro, até outubro de 1953, quando foi
nomeado delegado-substituto do Brasil junto à Organização das Nações Unidas
(ONU), em Nova Iorque.
Em junho de 1956 foi promovido a ministro de primeira classe.
Em setembro deixou Nova Iorque, assumindo o cargo de embaixador em Bruxelas e,
cumulativamente, de enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do
grão-ducado de Luxemburgo. Em abril de 1960 tornou-se embaixador brasileiro em
Roma, substituindo o encarregado de negócios Sérgio Correia da Costa. Amigo
pessoal do vice-presidente João Goulart, durante a crise provocada pela
renúncia do presidente Jânio Quadros (25/8/1961), ajudou-o em seu retorno ao
Brasil. Goulart, que se encontrava em viagem à China Popular, tivera sua posse
vetada pelos ministros militares e só tomou posse em 7 de setembro de 1961, com
a adoção do sistema parlamentarista de governo através da Emenda Constitucional
nº 4.
No
ano seguinte, por ocasião da visita de João Goulart aos Estados Unidos e
atendendo a pedido do ministro das Relações Exteriores, Francisco Clementino de
San Tiago Dantas, Gouthier intercedeu junto ao presidente norte-americano John
Kennedy no sentido de que este só recebesse o presidente brasileiro na presença
de intérpretes. O ministro temia interpretações errôneas e indiscrições por
parte da imprensa norte-americana, que vinha atacando seguidamente Goulart, em
virtude da desapropriação de companhias norte-americanas consideradas de
utilidade pública promovida pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel
Brizola.
Devido a suas ligações com Goulart e com o ex-presidente
Juscelino Kubitschek (1956-1961), combatidos pelo movimento político-militar
vitorioso em março de 1964, Gouthier foi aposentado em junho desse ano pelo Ato
Institucional nº 1 (AI-1), editado em 9 de abril pela junta militar que assumiu
o governo, permitindo punições extralegais de adversários do novo regime.
Conseqüentemente, deixou a embaixada em Roma no mês de agosto, sendo
substituída pelo embaixador Francisco Di Alamo Lousada.
Em 1968, durante o governo do marechal Artur da Costa e
Silva, no momento em que eclodia nova crise política motivada pelo discurso do
deputado Márcio Moreira Alves na Câmara, que viria a culminar com a edição em
13 de dezembro do AI-5 — responsável pelo fechamento do Congresso — Gouthier
foi alvo da chamada operação “arrastão”, uma série de prisões efetuadas pelos
órgãos policial-militares de pessoas suspeitas de oposição ao regime. O ex-embaixador
ficou detido no quartel da Polícia Militar na praça da Harmonia, no Rio de
Janeiro, juntamente com intelectuais e estudantes.
Pecuarista em Goiás e dedicado a atividades empresariais,
vendeu em 1978 as Minas del Rei Dom Pedro, em Minas Gerais, à empresa estatal Companhia Vale do Rio Doce, mantendo em sua propriedade
algumas ações.
Em
agosto de 1979, depois de aprovado o projeto de anistia do governo do general
João Batista Figueiredo, encontrou-se com o presidente no palácio do Planalto,
a pedido do escritor Guilherme de Figueiredo, irmão do presidente e seu amigo
pessoal. Referindo-se com palavras elogiosas ao presidente, Gouthier declarou
na ocasião à imprensa que “se não tumultuarem o processo democrático, outras providências
poderão, gradativamente, surgir no campo da anistia”. Perguntado sobre a
punição que recebera com o AI-1, afirmou que não tinha reivindicações a fazer,
e, confiante no processo de redemocratização de Figueiredo, pediu que não se
revolvesse “a poeira do passado”.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 25 de maio de 1992.
Era casado com Laís Gouthier, com quem teve um filho.
Publicou Presença: algumas lembranças (memórias,
1982).
FONTES: ARQ. DEP.
PESQ. JORNAL DO BRASIL; BASTOS, R. Homens; Globo (6 e 9/6/82); Jornal
do Brasil (16/7/78, 27/6 e 13/8/79); MIN. REL. EXT. Anuário.